domingo, 4 de outubro de 2015

ESTRANHO... POR QUE OS EUA TANTO PROTESTAM CONTRA A RÚSSIA BOMBARDEAR TERRORISTAS NA SÍRIA?




Estranho... Por que os EUA tanto protestam contra a Rússia bombardear a 'al-Qaeda'?!

Por Tony Cartalucci, no "New Eastern Outlook" (http://journal-neo.org/2015/10/01/us-complains-as-russia-bombs-its-terrorists/). Tradução: Vila Vudu

"O 'New York Times', no recente artigo "Russians Strike Targets in Síria, but Not ISIS Areas," tenta pintar as recentes ações da Rússia na Síria como desonestas e perigosas. Vejam:

"Aviação russa continua a bombardear combatentes da oposição síria na 4ª feira, incluindo pelo menos um grupo treinado pela CIA, o que despertou protestos zangados [orig. angry protests] de funcionários dos EUA e lança aquela complexa guerra sectária em novo e perigoso território".

Claro. Só haveria ação russa desonesta ou perigosa se os grupos treinados por CIA-EUA fossem realmente os "moderados" que os EUA dizem que seriam. Mas não são. Assim, as ações da Rússia são plenamente justificadas e são expansão da atual e bem conhecida política russa.

Não há 'moderados', nem nunca houve

Já há meses, depois de anos e anos de manchetes a confirmar que os EUA estavam armando clandestinamente militantes na Síria com o objetivo de derrubar o governo em Damasco, uma narrativa que fala de dezenas de milhares dos tais 'militantes' que teriam 'desertado' para a Frente Al-Nusra e o chamado "Estado Islâmico" (ISIS/ISIL) foi imposta ao público pela mídia-empresa ocidental e políticos dos EUA, tentando explicar o aparente fracasso de uma suposta política dos EUA, de criar um exército de "moderados" que combateria contra, simultaneamente, ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico e o governo sírio.

Em realidade, desde o início, nunca houve qualquer terrorista "moderado". Desde 2007, anos antes da guerra na Síria, os EUA decidiram, como sua política, financiar e apoiar, deliberada e intencionalmente, a "Fraternidade Muçulmana na Síria" – que, para todos os efeitos, é o braço político da Al-Qaeda ali – e começaram a armar militantes afiliados diretamente à Al-Qaeda.

É a verdade histórica e foi o que revelou, em 2007, o jornalista e Prêmio Pulitzer Seymour Hersh, em artigo para a revista "New Yorker" intitulado "The Redirection Is the Administration’s new policy benefitting our enemies in the war on terrorism?" [Redirecionamento: a nova política do governo dos EUA estará beneficiando nossos inimigos na guerra contra o terrorismo?], onde diz, explicitamente:

"Para minar o Irã, que é predominantemente xiita, o governo Bush decidiu, de fato, reconfigurar suas prioridades no Oriente Médio. No Líbano, o governo cooperou com o governo da Arábia Saudida, que é sunita, em operações clandestinas para enfraquecer o Hezbollah, a organização xiita apoiada pelo Irã.
Os EUA também participaram de operações clandestinas para atingir o Irã e a Síria, aliada do Irã. Efeito colateral dessas atividades foi inflar grupos sunitas extremistas que têm visão militante do Islã e que são hostis aos EUA e simpáticos à Al-Qaeda".

O relatório profético, de nove páginas, de Hersh, também revelaria que mesmo então a "Fraternidade Muçulmana Síria" já recebia dinheiro e apoio dos EUA, que chegavam até lá pela Arábia Saudita. O relatório revelou:

"Há evidência de que a estratégia de redirecionamento do governo já beneficiou a 'Fraternidade'. A 'Frente de Salvação Nacional Síria' é uma coalizão de grupos de oposição cujos principais membros são a facção liderada por Abdul Halim Khaddam, ex-vice-presidente da Síria, que desertou em 2005, e a 'Fraternidade'. Um ex-alto funcionário da CIA disse-me que "Os norte-americanos garantiram dinheiro e apoio político. Os sauditas estão tomando a frente com apoio financeiro, mas há envolvimento dos norte-americanos." Disse que Khaddam, que atualmente vive em Paris, recebia dinheiro da Arábia Saudita, com pleno conhecimento da Casa Branca. (Em 2005, uma delegação de membros da Frente reuniu-se com funcionários do Conselho de Segurança Nacional, conforme notícias que a imprensa publicou.) Um ex-funcionário da Casa Branca disse que os sauditas forneceram passaportes aos membros da 'Frente'.

Em 2011, afiliados da Al-Qaeda na Síria, principalmente a 'Frente al-Nusra', começaram a operar em todo o país, tomando a dianteira na luta apoiada pelos EUA contra Damasco. Em 2012, quando o Departamento de Estado pôs a Frente al-Nusra na lista de organização terrorista estrangeira, já era bem claro que a maior parte das forças que lutavam contra o governo Assad eram da Al-Qaeda".

A declaração oficial do Departamento de Estado dos EUA sobre a "Frente Al-Nusra" dizia que:

"Desde novembro de 2011, a 'Frente al-Nusra' declarou ter realizado cerca 600 ataques – mais de 40 ataques de suicidas-bomba, até ataques com armas leves e operações com objeto explosivo improvisado – em grandes cidades dentre as quais Damasco, Aleppo, Hamah, Dara, Homs, Idlib e Dayr al-Zawr. Durante esses ataques, morreram muitos sírios inocentes".

Claro que a Al Qaeda não só esteve envolvida no conflito desde o início, como também liderou as ações. Assim resulta desmentida a atual conversa dos EUA, de que a Al-Qaeda só teria entrado na luta no período recente, aproveitando-se do caos que teria sido criado pelos "moderados" em sua luta contra Al-Assad. É perfeitamente claro e comprovado que a própria Al-Qaeda gerou todo o caos, desde o início, e continua alimentando o caos até hoje.

Os dutos retóricos de repetição

Para explicar como o exército de 'moderados' da ficção que os EUA distribuíam pelo mundo fora 'deslocado' no campo de batalha na Síria, substituído por Al-Qaeda e ISIS, os EUA passaram a dizer que aquela sua operação de quase cinco anos e vários bilhões de dólares sofreu repentinamente deserções em massa.

"The Guardian" apressou-se a noticiar (8/5/2015), em artigo intitulado "Free Syrian Army rebels defect to Islamist group Jabhat al-Nusra," que:

"O principal grupo armado da oposição Síria, o 'Exército Sírio Livre', está perdendo combatentes e armamento para a 'Frente al-Nusra', organização islamista com conexões com a 'al-Qaeda' que está surgindo como a força mais bem equipada, financiada e motivada na luta contra o regime de Bashar al-Assad".

O "International Business Times" também noticiaria (14/3/2015), em artigo intitulado "Four Years Later, The Free Syrian Army Has Collapsed," [4 anos depois, o 'Exército Sírio Livre' entrou em colapso] que:

"A 'Frente Al-Nusra', também chamada 'Jabhat al-Nusra', conquistou milhares de combatentes que nos três anos anteriores lutavam sob o guarda-chuva do 'Exército Sírio Livre'. Oferece a eles centenas de dólares em salário mensal e mantimentos. Os soldados do 'Exército Sírio Livre' não têm remuneração mensal. Quando grupos extremistas como a 'Frente al-Nusra' ganharam espaço na Síria recebendo milhões de dólares em dinheiro de ricos empresários do Golfo e da Líbia, os moderados "não tiveram escolha" – disse Jarrah. – "Sentem-se desprestigiados, e juntam-se ao ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico."

The Daily Beast (1/3/2015) noticiou em "Main U.S.-Backed Syrian Rebel Group Disbanding, Joining Islamists" que:

"O grupo rebelde sírio 'Harakat al-Hazm', uma das milícias em que mais a Casa Branca confia na luta contra o governo do presidente Bashar al-Assad, colapsou domingo passado. Os ativistas postaram uma declaração online assinada pelos altos comandantes, em que dizem que estão desmontando as unidades e desdobrando-as em brigadas alinhadas com uma aliança islamista insurgente na qual Washington não confia".

'Harakat al-Hazm' levaria com ele para a 'Al-Qaeda' e o ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico milhões de dólares em sofisticado armamento norte-americano, inclusive os mísseis antitanques TOW de fabricação norte-americana.

O mais recente grupo apoiado e mantido pelos EUA, a tristemente famosa "Divisão 30", também teria desertado e estaria alistada agora à 'Al Qaeda' – assumindo-se que já não fossem militantes da 'Al-Qaeda' desde o início. 'The Telegraph' (22/9/2015) em artigo intitulado "EUA-trained Division 30 rebels ‘betray EUA and hand weapons over to al-Qaeda’s affiliate in Síria’," [Rebeldes da Divisão 30 treinados nos EUA traem EUA e entregam suas armas a grupo ligado à Al-Qaeda na Síria] disseram que:

"Rebeldes treinados pelo Pentágono na Síria traíram seus apoiadores-financiadores norte-americanos e entregaram suas armas à 'al-Qaeda' na Síria imediatamente depois de chegarem de volta ao país.

Combatentes da Divisão 30, a divisão de rebeldes "moderados" que os EUA apoiavam, renderam-se à 'Frente al-Nusra' afiliada da 'al-Qaeda', como várias fontes informaram na 2ª feira à noite.

A Rússia está bombardeando a Al-Qaeda

Ora! Todo esse noticiário – nada que o ocidente algum dia tenha desmentido ou negado – sobre "moderados" apoiados pelos EUA que se uniram, aos milhares, à 'Al-Qaeda', prova, no mínimo, que a política dos EUA de construir alguma oposição moderada (e armada) resultou em retumbante fracasso.

Mas todas essas evidências e muitas outras, que vão até os idos de 2007, provam também que os EUA jamais, nem agora nem antes, tiveram qualquer intenção de construir oposição 'moderada', e que as notícias abundantes de tantas "deserções" são simples mentiras para encobrir a cobertura direta em dinheiro e em armamento, que os EUA provavelmente sempre deram, mas agora com certeza estão dando à 'Al Qaeda' e ao ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico na Síria.

No mínimo, ao bombardear esses grupos armados que, ou já desertaram para a 'al-Qaeda', ou inevitavelmente logo desertarão, a Rússia presta grande favor ao Pentágono.

O que nos leva de volta ao mais recente artigo publicado no 'New York Times'. A Rússia não está arbitrariamente bombardeando "moderados" apoiados pelos EUA na Síria para devastar uma suposta oposição "legítima" ao governo em Damasco.

A Rússia está bombardeando terroristas que, ou já operam sob a bandeira da Al-Qaeda, mas a Casa Branca os apresenta fantasiados de 'bons democratas', ou logo terão entregue à 'Al Qaeda' seus combatentes e seu armamento.

A verdade é clara: a Rússia está bombardeando a 'Al-Qaeda'.
O artigo do 'New York Times' diz também que:

"Ao apoiar Assad e ao atacar todos e qualquer um que lute contra Assad" – disse na 4ª feira o secretário da Defesa Ashton B. Carter, a Rússia "está atacando todo o resto do país que luta contra Assad." Alguns desses grupos, disse Carter, são apoiados pelos EUA e têm de ser parte de uma resolução política na Síria.

Não parece haver dúvidas de que a Rússia está, sim, bombardeando grupos que os EUA apoiam, mas isso só acontece porque os EUA, há muito tempo e intencionalmente, apoiam a Al-Qaeda e o ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico na Síria.

A qualquer momento, se os EUA realmente quisessem fazer desaparecer as forças do ISIS, bastaria terem fechado a fronteira turca, através da qual fluem suprimentos, combatentes, armas e veículos em direção à Síria. Tivessem fechado a fronteira turco-síria ao norte, e a fronteira jordaniana/síria ao sul, os EUA teriam dado cabo do ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico em um mês, se não em menos tempo.

Que os EUA tenham deixado fluir suprimentos, armas, veículos e combatentes para o ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico ali, bem diante do nariz de seus aliados e das próprias forças dos EUA estacionadas na Jordânia e na Turquia, é indicador eloquente de que os EUA estão, no mínimo, autorizando a perpetuação do ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico – mas, mais provavelmente, sugere que estejam ativamente envolvidos em encher os caminhões para o ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico também na Síria.

O secretário de Defesa dos EUA Ashton Carter diz que a posição dos russos está "condenada" – no que parece ser promessa de que os EUA resistirão contra os esforços de Moscou para pôr fim a grupos da Al-Qaeda e para eliminar o ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico.

Verdade é que há de haver quem veja claramente que subir a aposta e o blefe, numa política de apoiar terroristas que inevitavelmente será revelada ao mundo, e insistindo numa política que já fracassou no intuito de derrubar o governo sírio – o qual, hoje, já está reforçado por forças russas, iranianas e talvez também chinesas – é, essa sim, a política que está "condenada".

Por fim, é preciso observar que, para quem ainda duvide de que ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico é realmente invenção intencional da política externa dos EUA, que esse ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico está hoje combatendo contra forças militares combinadas de Síria, Hezbollah, Irã, Iraque e agora a Rússia.

Não faltará quem se pergunte quem teria capacidade material, armas, dinheiro, organização, para manter exército capaz de fazer frente a uma coalizão multinacional dessa envergadura. De onde, se não dos EUA e de seus aliados regionais, oISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico recebe toda sua capacidade militar?

Insistir em repetir que luta contra o ISIS, ao mesmo tempo em que já tão visivelmente apoia esses (e talvez muitos outros) terroristas é, essa sim, a posição realmente "condenada": condenada ao fracasso hoje, e condenada, no futuro, à eterna execração por toda a humanidade.*

FONTE: escrito por Tony Cartalucci, no "New Eastern Outlook" (http://journal-neo.org/2015/10/01/us-complains-as-russia-bombs-its-terrorists/). Tradução: Vila Vudu. Publicado no site "Patria Latina"     (http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=33f976eca39cccf5a14627fc9f6cf1b9&cod=15868). 

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