terça-feira, 10 de março de 2015

O ESTRAMBÓLICO PANELAÇO E O ÓDIO DA ELITE "BRANCA"




[OBS deste blog 'democracia&política': 


Achei muito estrambólico, sem nexo, até um pouco ridículo e constrangedor, o panelaço da "elite" (ou melhor, daqueles que se julgam elite). O que significam panelas para os mais ricos? Também acho sem lógica a tal movimentação gigante de rua que a mídia, a oposição e redes sociais estimulam e convocam amplamente em todo o Brasil. 

Desejam a retirada de Dilma da Presidência da República. Tudo bem. É um desejo. A palavra impeachment está na moda. Mas será que os batedores de panela raciocinam o que significaria o afastamento da Presidente?

Suponhamos (hipótese altamente improvável) que o movimento convocado alcance seu objetivo e Dilma venha a ser destituída ou renuncie. Dentro da ordem democrática, a única consequência possível seria Michel Temer ser alçado a Presidente da República e o poder federal vir a ser plenamente exercido pelo PMDB. (Fora da democracia, já sabemos. A óbvia consequência seria a ditadura militar por décadas, com sangrenta luta fratricida).

Vale a pena esse gigantesco esforço e, por fim, paralisar e traumatizar econômica e socialmente o país para esse objetivo? Isso seria maravilhoso e resolveria os problemas da elite? Não creio e não entendo. 

Um detalhe sobre a postagem abaixo. O autor fala em elite "branca". Ser "branco", no Brasil, é duvidoso e subjetivo; é força de expressão. Com poucas exceções, a maioria dos nossos "brancos" contém e evidencia, em algum grau, sua dosagem de melanina; o que é bom, é proteção da natureza contra as radiações solares nocivas desenvolvida ao longo de milhões de anos. Mas tudo é relativo. Por exemplo, a atriz para nós "branca" Fernanda Montenegro recentemente foi tratada na imprensa dos EUA como "não-branca". O jornal "Huffington Post" afirmou que o Oscar 2015 seria o primeiro, desde 1998, a não incluir uma pessoa “não-branca” em uma das quatro categorias de atuação. E a publicação incluiu Fernanda Montenegro na lista de “não-brancos”].

JUCA KFOURI: "PANELAÇO REFLETE ÓDIO DA ELITE BRANCA"

"O panelaço nas varandas gourmet de ontem não foi contra a corrupção", diz o jornalista Juca Kfouri. "Foi contra o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente diferenciada que anda frequentando aeroportos, congestionando o trânsito e disputando vaga na universidade". Leia a íntegra:

Do "Brasil 247"

O jornalista Juca Kfouri definiu o panelaço de ontem como a expressão de ódio da chamada 'elite branca'.

O panelaço da barriga cheia e do ódio

Por Juca Kfouri

"Nós, brasileiros, somos capazes de sonegar meio trilhão de reais de Imposto de Renda só no ano passado [sonegar significa também roubar dinheiro público já na sua origem].

Como somos capazes de vender e comprar DVDs piratas, cuspir no chão, desrespeitar o sinal vermelho, andar pelo acostamento e, ainda por cima, votar no Collor, no Maluf, no Newtão Cardoso, na Roseana, no Marconi Perillo ou no Palocci.

O panelaço [de domingo] nas varandas gourmet não foi contra a corrupção.

Foi contra o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com essa gente diferenciada que anda frequentando aeroportos, congestionando o trânsito e disputando vaga na universidade.

Elite branca que não se assume como tal, embora seja elite e branca.

Como eu sou.

"Elite branca", termo criado pelo conservador Cláudio Lembo, que dela faz parte, não nega, mas enxerga. 


Como Luís Carlos Bresser Pereira, fundador do PSDB e ex-ministro de FHC, que disse:

Um fenômeno novo na realidade brasileira é o ódio político, o espírito golpista dos ricos contra os pobres".

O pacto nacional popular articulado pelo PT desmoronou no governo Dilma e a burguesia voltou a se unificar.

Surgiu um fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, a um partido e a um presidente.

Não é preocupação ou medo. É ódio.

Decorre do fato de se ter, pela primeira vez, um governo de centro-esquerda que se conservou de esquerda, que fez compromissos, mas não se entregou.

Continuou defendendo os pobres contra os ricos.

O governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres.

Nos dois últimos anos da Dilma, a luta de classes voltou com força.

Não por parte dos trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita.

Quando os liberais e os ricos perderam a eleição não aceitaram isso e, antidemocraticamente, continuaram de armas em punho.

E de repente, voltávamos ao udenismo e ao golpismo.


Nada diferente do que pensa o empresário também tucano Ricardo Semler, que ri quando lhe dizem que os escândalos do mensalão e da Petrobras demonstram que jamais se roubou tanto no país.

“Santa hipocrisia”, disse ele. “Já se roubou muito mais, apenas não era publicado, não ia parar nas redes sociais”.

Sejamos francos: tão legítimo como protestar contra o governo é a falta de senso do ridículo de quem bate panelas de barriga cheia, mesmo sob o risco de riscar as de teflon, como bem observou o jornalista Leonardo Sakamoto.

Ou a falta de educação, ao chamar uma mulher de “vaca” em quaisquer dias do ano ou no Dia Internacional da Mulher, repetindo a cafajestagem do jogo de abertura da Copa do Mundo.

Aliás, como bem lembrou o artista plástico Fábio Tremonte: “Nem todo mundo que mora em bairro rico participou do panelaço. Muitos não sabiam onde ficava a cozinha”.

Já na zona leste, em São Paulo, não houve panelaço, nem se ouviu o pronunciamento da presidenta, porque faltava luz na região, como tem faltado água, graças aos bom serviços da Eletropaulo e da Sabesp.

Dilma Rousseff, gostemos ou não, foi democraticamente eleita em outubro passado.

Que as vozes de Bresser Pereira e Semler prevaleçam sobre as dos Bolsonaros é o mínimo que se pode esperar de quem queira, verdadeiramente, um país mais justo e fraterno.

E sem corrupção, é claro!"


FONTE: portal "Brasil 247"  (http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/172577/Juca-Kfouri-panela%C3%A7o-reflete-'%C3%B3dio-da-elite-branca'.htm).[Trechos entre colchetes em azul acrescentados por este blog 'democracia&política'] 

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