sábado, 14 de março de 2015

ÍNTEGRA DA ENTREVISTA DA NBC (EUA) COM O MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DO IRÃ

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Mohammad Javad Zarif



Mohammad Javad Zarif, Ministro de Relações Exteriores do Irã entrevistado por Ann Curry, da NBC News [dos EUA], em 4/3/2015. Título original “
Full Interview With Iranian Foreign Minister Mohammad Javad Zarif”. Traduzida  pelo "pessoal da Vila Vudu" e postada no blog "Redecastorphoto"



Parte 1

NBC News: Muito obrigada, senhor ministro, por estar aqui conosco.

JAVAD ZARIF:
O prazer é meu.

NBC News: Observamos certa agitação e grande número de reuniões. Será sinal de que as coisas estão cada vez mais difíceis? Ou estamos andando adiante?

JAVAD ZARIF:
Bem... É sinal de que somos gente séria. E queremos chegar a uma conclusão. Sugerimos que elevemos o nível das discussões técnicas. Por isso, tivemos aqui o diretor de uma organização de energia atômica e o secretário de energia e físicos nucleares muito conhecidos –, para buscar certo tipo de compreensão técnica. Na sequência, viu-se que foi providência muito importante, útil. E conseguimos avançar em bom número de questões que tratam de tecnicalidades. Porque, como sempre dissemos, nosso programa nuclear é exclusivamente pacífico. E se especialistas sentam-se com especialistas é bem mais fácil que eles próprios se expliquem e entendam-se. Estou muito feliz que essa medida tenha dado certo.

Claro, não significa que resolvemos tudo. Ainda há muitos problemas sejam técnicos sejam políticos, a serem resolvidos. Mas fizemos bom progresso. Embora ainda haja muito por fazer.

NBC News: Em que área está o obstáculo mais difícil de superar?

JAVAD ZARIF:
Como sempre digo, acho, já há um ano e meio, nada está resolvido, até que tudo esteja resolvido. É um quebra-cabeças. E todas as peças desse quebra-cabeças têm de estar, cada uma, no lugar certo, para que se tenha um quadro do que teremos pela frente. Mas acho que o obstáculo mais difícil é uma decisão política que tem de ser tomada. Significa que temos de escolher entre ou pressionar ou firmar um acordo. Parece que há muita pressão, particularmente dentro dos EUA, de várias frentes, e temos visto disso, ultimamente, para que não haja acordo. E há os que simplesmente veem suas esperanças e seu futuro político em conflito, tensão e crise.

Enquanto as coisas continuam assim, esse é ambiente muito difícil para que se tomem decisões políticas.

NBC News: Algumas das pressões vieram esta semana, na 3ª-feira (3/3/2015), do primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu. Causou muito alvoroço em Washington, esta semana, quando ele disse ao Congresso dos EUA que esse acordo pavimenta o caminho para a guerra, não para a paz, porque permitiria que o Irã construísse armas nucleares.

JAVAD ZARIF:
O Sr. Netanyahu vive a proclamar e predizer que o Irã terá uma arma nuclear em... dois, três, quatro anos, desde 1992. Está nas televisões e nas manchetes, sempre a repetir que o Irã terá armas atômicas dentro de dois anos, desde, como já disse, 1992. Em 2012, ele disse à Assembleia Geral da ONU que “o Irã terá bomba atômica dentro de um ano”. Parece que sonha com prorrogar esse seu ano para sempre. O Irã não está construindo arma atômica de tipo algum. Não queremos construir armas atômicas. Não acreditamos que armas atômicas assegurem a segurança de quem quer que seja, e com certeza não assegura a segurança dos iranianos.

É importante que todos compreendam que se trata de tecnologia nuclear, de avanços científicos, de trabalho científico do qual o povo iraniano se orgulha. Nada do que fazemos tem qualquer coisa a ver com armas nucleares. E tão logo tenhamos conseguido explicar isso, tão logo acaba essa histeria, tão logo essa obsessão por mais e mais guerras tenha passado, facilmente poderemos chegar a um acordo, por absolutamente não se tratar de programa que possa causar dano a quem for.

O acordo é importante porque ajudará a fazer com que o programa nuclear iraniano permaneça pacífico. Não temos dúvidas no Irã de que nosso programa nuclear é pacífico e permanecerá pacífico. Pode haver quem se preocupe. Pode haver quem... muitos acabaram por ser afetados pelo tipo de histeria que é criada e promovida por pessoas como o Sr. Netanyahu. E é útil para todos que o acordo possa seguir avante.

Como a senhora sabe, o Irã já foi submetido a número maior de inspeções, nos últimos 10, 15 anos, que qualquer outro país na face da Terra, exceto talvez o Japão. E temos menos de 1/10 do número de instalações nucleares, que o Japão. Mas já passamos por quase o mesmo número de inspeções.

E ao longo dos últimos dez anos, repetidamente, a Agência Internacional de Energia Atômica, AIEA, que faz a vigilância de instalações nucleares para a ONU, nos visita, chega e se vai dizendo sempre que “Nada está acontecendo no Irã que esteja sendo ocultado da opinião pública, nas atividades nucleares”.

Temos confiança que, depois de firmado o acordo, quando com certeza haverá ainda maior número de visitas de monitoramento e fiscalização, toda a comunidade internacional verá claramente que nosso programa nuclear é exclusivamente pacífico.

Não sei por que algumas pessoas tanto temem que assim seja. Não sei por que algumas pessoas não querem trabalhar para demonstrar que toda essa histeria dos últimos anos, como eu já disse, desde 1992, é injustificada e jamais teve qualquer base. Não sei por que têm a audácia de continuar a repetir sempre a mesma coisa, sempre o mesmo erro, sem que ninguém jamais os questione sobre as muitas vezes em que repetiram sempre o mesmo erro.

NBC News: O senhor falou sobre a AIEA. Como o senhor sabe, a Agência diz que o Irã tem resistido contra responder a algumas perguntas sobre atividades nucleares passadas, especificamente sobre se o Irã algum dia esteve ou não envolvido em tentativas para desenvolver uma bomba nuclear. Sendo assim, por que o Irã se recusa a responder essas perguntas?

JAVAD ZARIF:
Não, não nos recusamos. O problema é que estamos negociando no grupo que, nem sei como vocês o chamam, é "3 + três", ou "cinco + um", sobre como proceder. E esperamos, dentro desse processo, pelas perguntas às quais tenhamos de responder.

Mas, como a senhora sabe, fizeram-se algumas alegações contra o Irã. A maior parte delas, infelizmente, foram produzidas por Israel.

E sempre vale lembrar que Israel é o único país que possui armas nucleares em nossa região; é o único estado agressor em nossa região; é o único estado que ocupa território de outros povos em nossa região. Ainda assim, Israel tem o atrevimento de aparecer e acusar outros... dos mais diferentes crimes.

Agora, o Primeiro-Ministro de Israel, que é o verdadeiro responsável pela carnificina que acontece em Gaza, acusa um país que nunca invadiu país algum – nem na região nem em lugar algum – há mais de 250 anos, mais anos de paz com o mundo do que muitos países têm de vida! Não invadimos, não agredimos país algum, nem nossos vizinhos nem ninguém. O Irã tem sido fator de estabilidade nessa região. Comparado ao currículo do Irã, o currículo dos que nos acusam é... um desastre!

NBC News: [...] O senhor diz que não fez... Mas o Primeiro-Ministro Netanyahu diz que fez... Disse que o Irã teve forte influência no Iraque, no Afeganistão e na Síria [...]

JAVAD ZARIF:
Importante mesmo seria consultar esses países e descobrir quem mente nesse tópico [em vez de repetir o que o Sr. Netanyahu diz].

O Irã ajudou o governo iraquiano, a pedido, contra o ISIS. E também ajudamos o governo do Afeganistão na luta contra os Talibã e a al-Qaeda. E ajudamos o povo sírio na luta contra o ISIS e a Frente al-Nusra. Boa pergunta seria perguntar ao Sr. Netanyahu o que fazia visitando terroristas da Frente al-Nusra, hospitalizados. Por que Israel apoiava aqueles terroristas? Não estamos desfilando em passarelas dos EUA, em concurso de popularidade... o Sr. Netanyahu parece ocupado precisamente nessa atividade. E, ao mesmo tempo, é amigo íntimo dos mais perigosos terroristas do mundo que combatem contra os iranianos.

NBC News: Que terroristas, por exemplo?

JAVAD ZARIF:
Os da Frente el-Nusra no Golan – onde ele abertamente apoia os terroristas que Israel acolhe e que recebem abrigo em Israel, que recebem tratamento médico em Israel. Estranho é Israel acusar o Irã precisamente de ser o único país que sempre combateu contra a rede terrorista que, infelizmente, criou-se em nossa região. Claro que ajudamos o governo do Iraque, como ajudamos o povo curdo no Iraque, quando começou o massacre, pelos terroristas do "Daesh" contra o Iraque.

NBC News: O senhor diz “Daesh”, aqui dizemos “ISIL”.

JAVAD ZARIF:
ISIL, ISIS são siglas muito ruins, porque essa organização não é nem “estado” nem “islâmico”. Por isso, sempre preferimos a sigla "Daesh", mais fácil. Mas o importante é que todos reconheçam o que se vê em campo, mais que as siglas. Essa conversa para provocar medo não ajuda em coisa alguma. O que importa é considerar as realidades.

Nossa região está enfrentando uma gravíssima ameaça de violência e de terrorismo. E o Irã se opôs a ela, desde o primeiro momento. Nunca mudamos de lado.

Desde o primeiro momento, nos pusemos ao lado dos que realmente combatiam contra aqueles terroristas e organizações extremistas. E ali continuamos, até hoje, do lado do governo do Iraque, do governo regional do Curdistão e do governo do Afeganistão, que continuam a combater contra aquelas ameaças.

NBC News: Na 3ª-feira (3/3/2015), no Congresso, Netanyahu disse que “o regime iraniano não é problema judeu, como os nazistas não foram problema judeu”. Como o senhor responde a isso?

JAVAD ZARIF:
É pena que o Sr. Netanyahu já tenha começado a distorcer até as escrituras! No Livro de Ester está narrado o modo como o rei iraniano salvou os judeus... Se se lê o Velho Testamento, vê-se que foi um rei iraniano quem salvou os judeus da Babilônia! Ester tem uma cidade no Irã, regularmente visitada pela grande população de judeus que vivem no Irã e que é a maior de todo o Oriente Médio.

É, é... horrivelmente lamentável que a loucura já chegue a ponto de acusar-se uma nação inteira de iranianos, os mesmos que salvaram os judeus três vezes em toda a história: a primeira vez, já falei, quando um Primeiro-Ministro tentava alucinadamente matar todos os judeus, e o rei iraniano salvou os judeus; outra vez depois, no tempo de Ciro, o Grande, que salvou os judeus de Babilônia; e a terceira vez durante a IIª-Guerra Mundial, quando o Irã salvou muitos e muitos e muitos judeus.

O Irã tem brilhante currículo de tolerância religiosa, com todas as religiões. Temos um judeu no nosso Parlamento.

É totalmente uma lástima que alguém diga essas bobagens, que distorça desse modo a realidade, não só a realidade contemporânea, mas até a realidade bíblica e as escrituras que... é deles... Deveriam respeitá-las.

NBC News: Recuperamos o tuíte ao qual o Primeiro-Ministro Netanyahu referiu-se, do Supremo Líder. É de há sete meses, e nele o Supremo Líder diz [cito]: “Esse regime de lobos, bárbaro, infanticida, de Israel, que não para ante nenhum crime, não tem cura possível, e tem de ser aniquilado”. O senhor compreende, senhor ministro, por que os judeus tanto se ofenderam com esse tipo de linguajar?

JAVAD ZARIF:
Não, não compreendo. Porque é o que o regime de Israel é, nesse governo Netanyahu. Estamos falando de um regime hoje chefiado pelo Sr. Netanyahu, que matou, massacrou – como um açougueiro – crianças em Gaza. Ninguém está falando de aniquilar judeu algum. Nunca dissemos tal coisa nem jamais diremos.

Porque se nos interessasse aniquilar algum judeu poderíamos começar por aniquilar a enorme população de judeus iranianos, que vivem em perfeita paz no Irã. Temos até lugar no Parlamento para um deputado judeu, independente do número de judeus que vivam no país. Cada 150 mil muçulmanos iranianos têm um representante no Parlamento; e apenas 20 mil judeus iranianos têm também o direito de eleger um representante. Nunca ninguém, no Irã, pensou em aniquilar judeu algum.

O Irã tem longa história de tolerância e cooperação e de coexistência com nossos judeus iranianos e com judeus de todos os cantos do mundo.

Se alguém quiser embarcar nessa histeria, que embarque, mas esse não é problema do Irã. Já dissemos e continuaremos a dizer que o regime de Israel é ameaça constante à paz regional. Israel é o único regime que tem armas nucleares. É o único regime que agride nações vizinhas. É o único regime que ocupa território de povos vizinhos. E diariamente viola direitos humanos fora de suas fronteiras legais. Israel é regime que destrói vilas inteiras como “vingança”.

E ninguém aqui está falando de situação normal. Estamos falando da mais antiga, mais longa crise em nossa região, que persiste até hoje.

Não é admissível que o Sr. Netanyahu seja autorizado a esconder-se por trás de uma cortina de fumaça e ponha-se a pintar o Irã como se fôssemos ameaça a alguém, ao mesmo tempo em que vai encobrindo os crimes que são cometidos diariamente em Gaza contra pessoas inocentes. Milhares de pessoas foram arrancadas de suas casas, por causa das bombas israelenses, há apenas um mês! Exata repetição do que acontecera há alguns anos. E que já foi repetição do que acontecera em anos ainda anteriores.

Significa que, desgraçadamente, já se tornou uma prática que prossegue e prossegue em nossa região, há muito tempo. E a situação assim criada converteu-se em criadouro para terroristas e extremistas na região. A visão da degradação, dos palestinos privados de tudo, em nossa região é causa de preocupação e de riscos terríveis em todo o mundo islâmico e para além, até na Europa. [...]

NBC News: O Primeiro-Ministro Netanyahu falou especificamente do senhor, como o senhor deve saber. Gostaria de oferecer ao senhor a oportunidade para responder. Ele disse que alguém deveria perguntar ao senhor por que o senhor depôs uma coroa de flores no túmulo de Imad Mughniyah. Disse que esse homem derramou mais sangue, mais sangue norte-americano, que outros terroristas como Obama bin Laden. Mughniyah foi comandante do Hezbollah. É acusado de vários ataques a bomba contra soldados dos EUA, contra embaixadas dos EUA.

JAVAD ZARIF:
Para começar, como todos sabem, temos nossas diferenças com os EUA. Normal. Além disso, não estou aqui para algum concurso de quem é mais “bom” ou mais popular nos EUA. Estou aqui tentando ajudar a resolver um problema.

[N.T.: A jornalista insiste e insiste e repete várias vezes a conversa sobre a coroa de flores. É uma Netanyahu-de-saias ali, ao vivo. NOJO.]

JAVAD ZARIF: Não, não, não. Nada disso. Netanyahu é quem visita terroristas em hospitais. Antes de pedir-me contas da coroa de flores, ele que explique o carinho com terroristas hospitalizados em Israel.

A mim não incomoda declarar que, sim, temos diferenças políticas com os EUA, em muitos campos. É bem longa a lista de gestos de apoio, dos iranianos, a pessoas que lutam por justiça e que se erguem contra a opressão. Mas nunca apoiamos terroristas. Nunca apoiamos grupos ou “facções” de degoladores profissionais ativos na Síria ou no Iraque. O Primeiro-Ministro Netanhyahu não pode dizer à luz do dia, que ele faz o que faz. Eu posso.

NBC News: Interessante é que os dois se acusam, um o outro, de atos muito semelhantes.

JAVAD ZARIF:
Não estou acusando ninguém de coisa alguma. O que estou comentando foi notícia de televisão. (...) Além disso, o que a senhora diz que seria uma acusação contra mim, feita pelo Primeiro-Ministro Netanyahu, só é acusação porque o Primeiro-Ministro disse que seria e a senhora aceita e repete.

NBC News: Só queria saber por que o senhor pôs uma coroa de flores no túmulo de alguém acusado pela morte de muitos norte-americanos.

JAVAD ZARIF:
Entendo. Para compreender esses fatos, antes a senhora precisaria compreender que estamos falando de uma luta de resistência contra a ocupação israelense. Uma das principais organizações dessa resistência surgiu no Líbano. Não estamos falando de um grupo montado com dinheiro e terroristas vindos dos mais diferentes cantos do mundo e mandados para Síria ou Iraque para destruir um estado. Estamos falando de pessoas que lutam para defender a própria terra, a própria casa, o próprio território contra a ocupação.

Há episódios horrendos, na história de Israel que o Sr. Netanyahu não quer que o mundo conheça ou, se conheceu, que relembre, Sabra e Shatila no Líbano, bombardeio contra cidades libanesas, ocupação no sul do Líbano, atrocidades que foram cometidas no Líbano e configuram crimes de guerra. Em todos esses episódios, houve uma resistência libanesa que lutou contra o invasor. Combateram em seu próprio território pela independência de seu próprio país, para livrar o território, do país deles, da ocupação israelense.

Em todo o Oriente Médio, esses homens e mulheres são considerados heróis. E é aí que está o problema.

De nada adianta aos israelenses distribuírem para o mundo imagens totalmente falsificadas, sem absolutamente qualquer base na realidade, porque com todas essas mentiras ninguém jamais conseguiu mudar a história. Para ter certeza, basta ver o que se passa em nossa região.

Nossa região já há muito tempo está convertida num inferno. Esse inferno foi construído, foi criado porque a nossa região virou objeto de exploração, de ocupação, de dominação, de aplicação incansável de duplos padrões por muitas décadas. Esse é problema muito grave.

A menos que o ocidente – os EUA – deixem de admitir que a cortina de fumaça e mentiras que cerca Netanyahu e companhia esconda tudo; a menos que parem de ajudá-lo a esconder as atrocidades; e a menos que comecem a lidar com as realidades em campo em nossa região, nenhuma paz será jamais possível.

O mecanismo de acusar pessoas por coisas que não são exatamente o que são nunca resolverá problema algum na nossa parte do mundo. E nós jamais acusamos o Sr. Netanyahu de ter feito coisas que não são exatamente o que são. Porque sempre é importante ir além da “fachada” do que é dito.

O que eu estou dizendo é muito grave: se o Sr. Netanyahu é fotografado e filmado visitando terroristas hospitalizados, isso não é “uma acusação”. Isso é evidência, é prova, de que Israel está interessada – como de fato está – nas ações de terrorismo. São parceiros de ação da "Frente Jabhat al-Nusra" no Golan. A inteligência síria sabe disso e distribui essa informação. Está publicada em muitos jornais. A atenção dos jornalistas no ocidente deveria dirigir-se a esses temas e notícias.

Em vez disso, alguém vem ao Congresso dos EUA, onde é recebido com honras, e só faz distribuir boataria histérica sobre coisas que não existem.

O Irã nunca teve bomba atômica. O Irã nunca terá bomba atômica. Não temos nenhum interesse ou desejo de ter bomba atômica. Acreditamos que a bomba não trabalha a favor dos interesses dos iranianos, mas contra eles. Quem tem a bomba – de fato, tem mais de 200! – é ele! É Netanyahu. Netanyahu opôs-se à desnuclearização de todo o Oriente Médio. Israel é a única e importante pedra no caminho de criar-se área livre de bombas nucleares no Oriente Médio.

Por que ninguém pede contas a ele pelo que faz, em vez de só repetir o que ele diz?! E é assim que ele continua a inventar sandices contra o Irã. Quem é o Sr. Netanyahu para lançar acusações contra o Irã. Que autoridade tem? Que autoridade moral teria ele para fazer o que faz? [A senhora perguntou isso a ele? Não? Por que não?].

NBC News: Mudando de assunto, para falar especificamente sobre as negociações do acordo. Muitos no Congresso acusaram o governo Obama de estar ansioso demais para chegar logo a algum acordo. O secretário de Estado Kerry mostrou-se interessado em qualquer acordo a qualquer preço?

JAVAD ZARIF:
Ah, não, de modo algum! Os iranianos temos diferenças importantes com os EUA. E os EUA só aceitariam o acordo deles, sem nenhuma concessão, nunca, de maneira alguma! Fizeram de tudo: pressão, espionagem.

O problema é que é impossível acordar alguém que finge que está dormindo. As pessoas passaram décadas e décadas fingindo que não sabiam que alguns países, sim, estavam construindo e construíram bombas atômicas. Alguns até receberam ajuda para construir suas bombas. Agora, esses mesmos veem bombas atômicas em cada esquina..." 

[continua]

FONTE da Parte 1: postagem de Castor Filho em seu blog "Redecastorphoto"  (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2015/03/mohammad-javad-zarif-ministro-de.html)


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Parte 2 

NBC News: Espionagem?

JAVAD ZARIF:
Sim. Tentaram até espionagem. Israel tentou assassinar cientistas nucleares iranianos. Cinco cientistas nucleares iranianos foram assassinados em ataques terroristas no Irã, nos últimos vários anos. Os EUA tentaram sanções. Provavelmente, as sanções mais destrutivas, como eles dizem, “incapacitantes”, que os EUA jamais usaram contra outros povos, que privaram os iranianos até de comprar matéria-prima para medicamentos, ou de mandar fazer exames de sangue no exterior. São sanções desse tipo que os EUA aplicaram contra o Irã. Mas... e para quê? Que resultado obtiveram de tudo isso? Acho que o presidente Obama acertou quando disse que as sanções levaram o Irã a, partindo de menos de 200, termos hoje mais de 20 mil centrífugas.

Acho que o fato de os EUA terem reconhecido a futilidade da pressão contra o Irã, a futilidade das sanções contra o Irã, o fato de que reconheceram que sanções não funcionam, que essas pressões não funcionam que ameaças não funcionam, já mostraram ao mundo que o único modo de negociar com o Irã é mediante negociações respeitosas. E já andamos muito.

O Primeiro-Ministro Netanyahu, por exemplo, acreditava que não cumpriríamos os termos do plano de ação conjunta que adotamos em Genebra. A senhora lembra o estardalhaço que foi feito sobre isso, há cerca de dois anos, quando adotamos o plano, em novembro de 2013. Mas, relatório após relatoria, a AIEA só fez comprovar que o Irã cumprira o que fora acertado, cada um dos compromissos que assumimos naquele acordo. Todos sabem que o Irã cumpre o que assina. Sempre mantivemos nossa palavra. E fomos ludibriados. O povo iraniano foi ludibriado.

Mas somos gente que perdoa. Voltamos à mesa de negociações para mostrar ao mundo que nada temos a esconder, que queremos viver em paz, que queremos exercitar nosso direito à tecnologia nuclear para objetivos pacíficos. Estamos dispostos a aceitar restrições, e é claro que respeitaremos todos os padrões internacionais. Esse processo levará o Irã a aceitar o processo mais pervasivo, o processo mais rigoroso de inspeção internacional que existe. É o que se chama “protocolo adicional”. Ainda é preciso que o Parlamento iraniano aprove. Já aceitamos até essa história da... da... “cláusula de prazo” [orig. sunset clause [NTs]), aliás, não passa de mais uma tática para meter medo. O Irã aceita, já aceitou, de fato, pois somos membros do Tratado de Não Proliferação. Temos obrigação de não desenvolver armas nucleares. Estaremos para sempre sob inspeção, como qualquer outro país. As negociações não existem para garantir passe livre ao Irã. E nem precisamos de nada disso, porque o Irã não tem interesse em construir nenhuma bomba atômica, nem está planejando fazê-lo.

Alguns, porque têm, eles sim, programa nuclear clandestino, várias centenas de ogivas nucleares, pensam que todos acreditam, como eles, que seja possível construir segurança sobre um arsenal de bombas atômicas. Não pensamos assim. Para nós, nossa segurança nunca seria aumentada com um armazém cheio de bombas atômicas. De fato, o Irã sabe que quanto mais bombas atômicas tenhamos em casa, menor a segurança. Acreditamos que armas nucleares reduzem a segurança, não aumentam segurança de ninguém.

NBC News: O presidente Obama, na 2ª-feira (2/3/2015), disse que o Irã deve informar toda atividade nuclear sensível durante dez anos, se quiser algum acordo. O senhor está reclamando contra isso?

JAVAD ZARIF:
Não, não estou negociando em público. Estamos discutindo várias medidas, medidas de transparência e medidas de limitações voluntárias em nosso programa nuclear – com o programa "Uni", digo "Cinco mais Um", mas, basicamente, primariamente, com os EUA, e outros membros do "Cinco mais Um". Acreditamos que não são necessárias. Mas estamos preparados para andar ainda mais, sendo necessário, para convencer a comunidade internacional de que nosso programa nuclear é exclusivamente pacífico. Estamos engajados em discussões muito sérias, altamente técnicas, discussões nas quais estão envolvidos muitos físicos nucleares, incluindo os chefes de nossa organização de energia atômica e o secretário de Energia dos EUA, os quais, ambos, são físicos nucleares, e trabalham para confirmar que o programa nuclear do Irã sempre será pacífico.

Não temos qualquer problema com isso, porque o Irã deseja que seu programa nuclear que é pacífico continue pacífico. Queremos que nosso programa nuclear seja visto como pacífico. Porque é o que desejamos e é o que nos interessa. Não nos estamos engajando em qualquer modalidade de contenção nuclear. Entendemos que a ‘lógica’ da contenção nuclear é literalmente MAD [ing. “louca”], como no conceito de Mutually Assured Destruction [Destruição Mútua Garantida], MAD [louca]. Absolutamente não nos interessa.

Ao Irã, o que nos interessa é desenvolver nosso potencial científico. Temos sido impedidos, nos negam acesso à tecnologia. E por isso os nossos cientistas tiveram de desenvolver soluções nossas. Hoje, temos ciência iraniana, produzida no Irã. Um pouco copiamos de fora. Mas agora já produzimos nossa própria ciência. Nossos cientistas desenvolveram nossa ciência apesar de todas as dificuldades que nos impuseram de fora.

Por isso, a ciência iraniana é motivo de orgulho, é uma fonte legítima da dignidade nacional. Absolutamente não se trata de armas. Trata-se de ciência, de tecnologia nossa, de respeito e de dignidade. Trata-se de haver quem se interesse por impedir que o povo iraniano se beneficie dos frutos de nossa ciência e de nosso trabalho – ciência e trabalho que tiveram alto preço, para nós, em sangue.

Como já disse, muitos de nossos cientistas nucleares foram assassinados por agentes israelenses, infelizmente. E ninguém condenou esses crimes. Esses são fatos comprovados várias, várias vezes. Nada disso funcionará. É preciso ter um acordo negociado no qual se registrem todas as garantias que a comunidade internacional merece – e quando digo “comunidade internacional” falo da comunidade internacional capaz de reconhecer o direito que o Irã temos à nossa tecnologia nuclear iraniana para fins pacíficos. Porque outros países têm programa similar ao nosso, e se trata de tecnologia de ponta.

A energia nuclear é produto de tecnologia avançada, que será o futuro de outras gerações, produzindo energia limpa, energia que não destrói o meio ambiente nem produz gases de efeito estufa. Há aí áreas importantes de desenvolvimento. E nosso país quer se beneficiar desse desenvolvimento; e temos base científica para tanto.

Por tudo isso – se alguém estiver realmente preocupado com proliferação de armas nucleares –, o melhor modo é assegurar que as coisas no Irã continuem como até agora, porque essa ciência, que é nossa, não é importada e ninguém poderá tirar de nós, nunca causará dano a ninguém. O melhor meio para garantir que essa energia continue absolutamente pacífica é permitir que seja produzida e usada de modo transparente. Ora! O Irã aceita muita coisa. Mas não pode aceitar coisa alguma até que tenhamos um acordo.

Não entendo por que há quem não admite que haja acordo. Porque, se não tivermos um acordo, não concordaremos, não aceitaremos coisa alguma. Assim, sem acordo, é como sempre se volta à situação de quanto mais pressão contra o Irã, mais centrífugas!

Não vamos desenvolver armas nucleares. Mas se nunca param de nos pressionar, nunca obterão mais transparência. A única coisa que obterão é mais centrífugas.

Mas, se querem mais transparência, se querem menos centrífugas, se querem um programa de fases exclusivamente para conter, para limitar a capacidade científica que temos hoje, nesse caso produziremos dezenas de milhares de centrífugas.

Estamos dispostos a aceitar limitações, exclusivamente para chegarmos a um acordo internacional. Estamos dispostos a aceitar até medidas extras de transparência para reduzir preocupações que, no nosso modo de ver, são deslocadas, não fazem sentido algum.

Entendemos que essas preocupações foram infladas pelo clima reinante de histeria que gente como Netanyahu & companhia têm interesse em inflar sempre e cada vez mais. Mas mesmo assim estamos preparados para agir, para implantar medidas, para aliviar aquelas preocupações e aliviar tantos medos. Porque entendemos que essa nossa atitude é do nosso interesse e do interesse de todos. Mas...

O primeiro-ministro Netanyahu sabe que, se as coisas forem feitas como o Irã propõe, todas as mentiras dele serão expostas ante toda a comunidade internacional, como já foram expostas incontáveis vezes. (...) Agora, com um acordo, tudo isso terá, afinal, fim. O problema é que para Netanyahu a paz é ameaça existencial. Esse é problema dele. Não é problema do Irã.

NBC News: Bem... Uma das questões levantadas é que, se se marca um prazo, digamos, dez anos... A questão então se converte em “E depois? O que acontecerá depois?” Por que não fazer durar para sempre qualquer acordo que, essencialmente, congelará a atividade iraniana sensível? (...)

JAVAD ZARIF:
Difícil entender por que teríamos de assinar acordos eternos sobre uma bomba atômica que não existe, na qual não estamos trabalhando e que não nos interessa. Mas, sim, podemos até congelar para sempre qualquer coisa que tenha a ver com qualquer bomba atômica. A questão é que o Irã nunca fala de bomba atômica: o Irã sempre fala de tecnologia de enriquecimento para produzir combustível para nossos próprios reatores. Absolutamente não se trata de bomba alguma.

Estamos dispostos a aceitar limites por algum tempo. Depois, estaríamos submetidos às mesmas leis e regras que criam deveres e obrigações para o resto da comunidade internacional. Todo mundo sabe que Israel não tem de cumprir nenhuma legislação, porque Israel não assinou o Tratado de Não Proliferação. Por que não assinou? Coisa mais estranha é que quem mais fala sobre o Tratado de Não Proliferação... nunca assinou o tratado! Não é um assombro? Israel não é membro do TNP.

Mesmo assim, Netanyahu vive a dar lições de não proliferação. Justamente o mais feroz proliferador da história recente, com 200 – 200! – ogivas nucleares em seu arsenal. E fala de não proliferação.

O Irã pode, sim, aceitar alguma limitação por algum tempo, mesmo que consideremos obrigação sem sentido algum, só porque nos parece interessante como prova de boa fé, não como obrigação.

Estamos dispostos a aceitar obrigações, não obrigações que Israel jamais teve de aceitar, mas obrigações que outros países, membros do TNP, podem aceitar; as salvaguardas, o protocolo adicional, todos os demais instrumentos que proíbem o desenvolvimento de armas nucleares. Porque o Irã não tem interesse algum em desenvolver bombas atômicas.

As cláusulas que proíbem o desenvolvimento de armas atômicas não têm prazo para acabar, nada de cláusula de fechamento. O Irã jamais será ‘liberado’ da obrigação de não desenvolver bombas atômicas dentro de 20 anos, 50 anos. São obrigações vigentes para sempre que o Irã assumiu quando assinou e ratificou o Tratado de Não Proliferação.

Assim se vê que toda essa conversa sobre ‘cláusulas’ com prazo ou sem prazo não passa hoje, como nunca passou, de demagogia. Nunca, em tempo algum, acordo algum jamais disse que em tal dia, de tal ano, alguém ficará livre para começar a produzir bombas atômicas. O Irã não quer produzir bombas atômicas. E já assinamos um acordo – que sempre cumprimos – que nos proíbe e proíbe todos os países signatários, no futuro. (...)

NBC News: Por que os norte-americanos teriam de confiar no Irã?

JAVAD ZARIF:
Ora... Não estamos pedindo que ninguém confie em nós. Há um sistema internacional que...

NBC News: Sim, estão. Se estão tentando conseguir um acordo.

JAVAD ZARIF:
Não.

NBC News: Claro que vocês estão pedindo que confiem em vocês.

JAVAD ZARIF:
Não, não, não e não. Não estamos pedindo que ninguém confie em nós. Conhecemos bem o alto nível de desconfiança mútua que há entre o Irã e os EUA. Infelizmente, também entre os EUA e vários países. Mas o povo iraniano não tem dúvida alguma, porque viram acontecer, de que os EUA não deram nenhuma atenção ao fato de que o Irã foi invadido por país vizinho; que não deram qualquer atenção ao fato de que foram usadas armas químicas contra nós, por Saddam Hussein.

Pode parecer história velha para muitos. Mas é história ainda viva na memória dos iranianos. Portanto, se não confiamos, tampouco contamos com que alguém confie em nós. Estamos negociando, sim, um passo de cada vez.

O acordo é muito viável. Será examinado e fiscalizado. Não estamos pedindo que confiem em nós. Queremos ver instalados os mecanismos de verificação e fiscalização. Já aceitamos as verificações. E entendo que qualquer pessoa, em seu perfeito juízo, deve encorajar, deve considerar bem-vindo o acordo, que terá seu próprio mecanismo de verificação e fiscalização, para comprovar, uma vez mais, que o Irã sempre cumpre seus compromissos.

NBC News: Como o senhor sabe e eu também sei, o processo de verificação não impediu algumas nações de construir a bomba atômica.

JAVAD ZARIF:
Em tempos recentes, os sistemas de verificação mudaram. E, além do mais, estamos aceitando mecanismos adicionais de fiscalização e verificação. E daremos a toda a comunidade internacional garantias de que o Irã nunca produzirá bombas atômicas.

O problema é que é impossível acordar alguém que finge que está dormindo... As pessoas passaram décadas e décadas fingindo que não sabiam que alguns países, sim, estavam construindo e construíram bombas atômicas. Alguns até receberam ajuda para construir suas bombas. Agora, esses todos veem bombas atômicas em cada esquina...

O Irã não está produzindo nem produzirá bombas atômicas. O Irã não quer produzir bombas atômicas. O Irã não produzirá armas nucleares. E temos a nosso favor os necessários mecanismos internacionais.

Se se lê o relatório geral da AIEA, não o relatório sobre o Irã, o outro, o relatório geral sobre como os demais países estão cumprindo as normas, se se lê aquele relatório, vê-se que, depois do Japão, o Irã é o país que passou pelo maior número de visitas de inspeção. Essas inspeções determinaram índice de menos de 1% de desvio nas restrições.

Outros países que não estão submetidos a nenhuma restrição, que não aceitaram nenhuma limitação mostram índices de infração de 30, 40, 50, e até há alguns poucos países com 100% de infração. Está tudo bem claro, no relatório, basta examinar, a senhora pode constatar, no relatório de 2013 da AIEA, o mais recente que foi divulgado".


FONTE da Parte 2: postagem de Castor Filho em seu blog "Redecastorphoto" http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2015/03/mohammad-javad-zarif-ministro-de_10.html

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Parte 3

NBC News: O governo iraniano deixou claro que, sem alívio nas sanções, não haverá acordo. Que sanções têm de ser imediatamente levantadas para que haja acordo?

JAVAD ZARIF:
Aqui, de fato, está envolvido um princípio. É preciso ver as sanções não como fator de avanço, mas como fator de atraso, não na coluna do Ativo, mas na coluna do Passivo. Como o presidente Obama disse, com razão, as sanções geraram 19 mil centrífugas. Significa que não há sanções que derrotem o desejo e a determinação dos iranianos de exercerem seus direitos. As sanções, sim, agridem o povo. Mas o povo iraniano, conforme a mais recente pesquisa Gallup, realizada há apenas algumas semanas, creio, por organização norte-americana de pesquisa, não por organização iraniana, mostra que, apesar de todas as sanções, ampla maioria da população do Irã não quer que o país abandone nosso programa a nuclear, que é programa pacífico. Não quer.

Implica dizer que o povo iraniano resistirá contra as pressões.

Mas o problema é que, se queremos esse acordo, temos de alterar a situação precária que criaram para o Irã, segundo a qual continuam a nos pressionar, impondo sanções, e o Irã reage avançando e construindo mais e mais centrífugas. É preciso mudar esse... ambiente. O único modo de mudá-lo é afastar-se das pressões e abrir negociações – em situação que seja mutuamente aceitável, situação que nós chamamos de ganha-ganha, na qual, se você quer ter garantias de que o programa nuclear do Irã seja sempre pacífico, é possível obter tais garantias.

Aparentemente, esse seria o objetivo ao qual visavam as sanções: garantir, para a comunidade internacional, que o programa iraniano será sempre pacífico. Se se constrói acordo que assegure precisamente isso, por que manter as sanções? Aí está a questão de princípio. Diferente disso, se os EUA, porque é prerrogativa dos EUA, mantêm as sanções, porque acreditam que sanções podem dar a eles as garantias que desejam, então que mantenham as sanções. E o povo iraniano continuará a resistir.

Mas se, afinal, entenderem que o caminho das sanções leva a lugar nenhum, e entenderem que, sim, é importante chegar a um acordo, melhor para todos. Estou querendo dizer que “sanções” e “acordo” são mutuamente excludentes. Ninguém pode simultaneamente conservar o bolo e devorá-lo. Não se pode ter acordo e sanções. O acordo implicará que o Irã estará sob a séria obrigação internacional de cumprir o que disse que cumpriria.

Já comprovamos no último ano e meio, de fato nos últimos dez anos, mas confirmado no último ano e meio, desde que temos o programa de ação conjunta adotado em Genebra em novembro de 2013, temos mostrado que o Irã sempre cumpre os compromissos que assuma. O povo do Irã é conhecido pela seriedade com que cumpre o que promete. Somos civilização antiga. Já passamos pelo teste da história.

O Irã é país que, em 250 anos, jamais agrediu país algum em todo o mundo. Essa é uma história da qual podemos nos orgulhar e da qual me orgulho pessoalmente, muito. E essa história é garantia de que, depois que se dissipem todas essas fumaças de incompreensões, o Irã cumprirá o que se comprometer a cumprir.

NBC News: Então...O que o senhor tem a dizer sobre a ideia de que as sanções são usadas para conseguir melhor comportamento (sic) do Irã, especificamente no que tenha a ver com seu envolvimento com o Hezbollah e outras organizações, como se ouviu na 3ª-feira?

JAVAD ZARIF:
Ah... A senhora sabe, estamos negociando a questão nuclear. Não estamos negociando outras questões. O grupo "5+1" tem mandato para negociar questões nucleares. E estamos negociando questões nucleares. Estamos tentando resolver essas questões.

Mas há gente que não quer ver resolvidas as questões nucleares. Então, se dedicam a complicar tudo. Não temos nenhuma obrigação de resolver todos os problemas do mundo – e são muitos. O povo iraniano tem quantidade enorme de problemas e dificuldades que deseja ver resolvidos. Nem por isso estamos pondo sobre a mesa esses outros problemas que o grupo "5+1" não tem mandato nem competências para discutir.

Os iranianos não trouxemos à discussão os nossos problemas sobre as repetidas tentativas de golpe para derrubar nossos governos; de países que apoiaram Saddam Hussein na guerra do Iraque contra o Irã; que apoiaram o emprego de armas químicas contra o povo iraniano; problemas que temos com países que forneceram as armas químicas que o Iraque usou contra o povo iraniano. Essas questões são muito reais. Mas não as trouxemos para essa mesa de negociações. Aqui se trata de discutir a questão nuclear.

E será uma grande vitória se conseguirmos chegar a um acordo! Considere o seguinte: nos últimos 60 anos, bem poucos problemas foram resolvidos diplomaticamente. Aí está uma oportunidade gigante para toda a comunidade internacional, resolver diplomaticamente a questão que estamos reunidos para discutir. Devemos essa solução ao povo de todo o planeta, temos o dever de dar o melhor de nós para resolver a questão que estamos discutindo. (...) E, se chegarmos a esse acordo, para que servirão as sanções, todas elas?

A questão do extremismo na nossa região é questão amplíssima. Há muito, muito a dizer sobre as agressões que nossa região tem sofrido. Há muito, muito a dizer sobre ocupação na nossa região. Mas não queremos misturar essas questões e as correspondentes discussões. Acredite: se essa discussão começar, se o mundo começar a saber a verdade sobre tantos desses temas de que tanto se fala... a verdade não é agradável para alguns.

NBC News: Voltemos então ao tópico específico do acordo nuclear. Muitos se preocupam com a possibilidade de que o Irã tenha... que possa estar ocultando instalações nucleares, que haveria instalações nucleares secretas. O senhor pode afirmar categoricamente que o Irã não tem instalações nucleares, nenhuma instalação não declarada?

JAVAD ZARIF:
Sim, declaro-o categoricamente. Mas o único modo de todo o restante da comunidade internacional descobrir se é verdade ou não o que já declarei mil vezes, é admitir que o acordo evolua, que sigamos adiante. Assim, haverá também um protocolo adicional, que permitirá inspeções. Ao longo dos últimos dez anos – já disse e repito –, o Irã já passou por mais inspeções de autoridades nucleares, que qualquer outro país. Nunca encontraram coisa alguma. Nem indício algum, nem indicação alguma.

Tudo isso que o primeiro-ministro Netanyahu vive a “revelar” são invenções, acusações falsas, a maioria delas inventadas por ele mesmo.

Minha resposta categórica é sim, posso declarar que o Irã não tem qualquer instalação nuclear escondida. Tão logo haja um acordo firmado em termos equilibrados e justos, toda a comunidade internacional terá os meios necessários para verificar diretamente. [...]

JAVAD ZARIF: O Irã absoluta e completamente não tem interesse em desenvolver armas nucleares, não quer desenvolvê-las, não está desenvolvendo arma nuclear alguma. [Assim sendo, suas perguntas insistentes sobre “quanto tempo falta” para termos alguma bomba atômica tornam-se sem sentido e irrelevantes].

O Irã já tem urânio enriquecido suficiente para dez anos de operação de nossas centrífugas. E é material físsil suficiente para já termos desenvolvidos muitas bombas atômicas, se nos interessasse. Não o fizemos. O material lá está, sob monitoramento da AIEA. Temos oito toneladas de material físsil, de urânio enriquecido a 3,5%. Não temos bombas atômicas porque não acreditamos que alguma bomba atômica ajude a aumentar alguma segurança, seja de quem for. Netanyahu tem esperança de que suas 200 bombas atômicas lhe garantam alguma segurança. Está errado. É simples assim. Netanyahu está errado.

NBC News: Por quê?

JAVAD ZARIF:
Porque nenhuma bomba atômica é garantia de segurança para ninguém. Nem nunca foi.

Os EUA têm o maior arsenal de bombas atômicas do planeta e vejam que país foi atacado daquele modo, no 11/9. Nenhuma bomba atômica impediu aquela violência.

É mais que hora de alterarmos nossos paradigmas. Temos de começar a analisar de outro modo a situação mundial. Vivemos em mundo interconectado. Em mundo globalizado. É mundo diferente. Ninguém pode supor que esteja seguro, se essa sua pseudossegurança é construída à custa da insegurança de muitos. (...) Todos esses “prazos” e datas que inventam e nunca se cansam de repetir é pura histeria. (...)

NBC News: O Congresso ameaçou impor novas sanções e agora fala de exigir que qualquer acordo seja aprovado pelo Congresso. O presidente Obama disse que vetará qualquer coisa que crie riscos para as conversações. Como o Irã reagirá.

JAVAD ZARIF:
Diferentemente do que fazem muitos, eu não me pronuncio sobre assuntos internos de outros países. Absolutamente não comentarei questões internas dos EUA. Entendo que, pelo que li na Constituição dos EUA, como qualquer um pode ler, que o Executivo tem prerrogativas para decidir nas questões de política exterior, e que outros poderes têm de confiar no que decida o Executivo. Com certeza, confiarei na assinatura do governo dos EUA em qualquer acordo que consideremos satisfatório. E se tivermos esse acordo, com certeza meu país e eu obrigaremos os EUA a respeitá-lo, nos termos da lei. Evidentemente, tudo que o presidente Obama e o secretário Kerry entenderem por bem fazerem no plano da política interna dos EUA não é problema do Irã. E é princípio fundamental da lei internacional que nenhum governo pode intervir em assuntos internos de outro governo.[...]


NBC News: Não é a primeira vez nessa entrevista que o senhor parece estar apontando para o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de Israel.

JAVAD ZARIF:
Estou apontando para qualquer um que veja a paz como ameaça existencial."


FONTE da Parte 3: postagem de Castor Filho em seu blog "Redecastorphoto"   (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2015/03/mohammad-javad-zarif-ministro-de_12.html).

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