segunda-feira, 9 de março de 2015

A MONTANHA PARIU UM RATO (O GOLPE)




A montanha pariu um rato? Ou melhor, pariu um golpe?

Por Miguel do Rosário

"É incrível que, após tantos meses de suspense, de terrorismo político, de manipulação de vazamentos para interferir nas eleições, a famigerada Lista do Janot seja um apanhadão baseado quase que exclusivamente em delações premiadas de Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa.

E delações baseadas, na maioria das vezes, num “ouvi falar” altamente questionável.

Temos a impressão que os promotores e os delegados da Polícia Federal simplesmente não trabalharam.

Eles apenas ouviram os dois delatores, conferindo peso de verdade a tudo que disseram. Quer dizer, nem tudo. O que os delatores falavam sobre o PSDB era solenemente ignorado ou desprezado.

Nem a contradição entre um e outro foi considerada.

Os depoimentos sobre Lindberg Farias, Humberto Costa e Palocci foram contraditórios.

Paulo Roberto Costa falou uma coisa, Albertou Youssef negou.

No caso de Lindberg, nem a delação de Costa o incrimina, porque o petista foi conversar com ele, quando Costa ainda era um homem imaculado, sem acusações, para lhe ajudar a obter arrecadação oficial, legal, para a sua campanha.

Agora, todos esses nomes serão usados para a mídia construir o seu tribunal particular, tendo já julgado e condenado e sentenciado todos. Nem importa se os casos forem arquivados mais tarde. Se isso acontecer, a imprensa gritará pizza! e o objetivo estará cumprido de qualquer forma: enfraquecer politicamente o PT.

Os senadores do PT foram incluídos para que o governo perdesse o seu núcleo de apoio no Senado. O inquérito serve para desestabilizá-los em várias frentes: emocionalmente, politicamente e até financeiramente, visto que precisarão contratar escritórios milionários de advocacia. Fragilizados, e ocupados com suas próprias defesas, terão dificuldade para defender Dilma ou o governo.

Parece tudo um jogo político.

O caso Palocci volta à instância do Paraná, onde o juiz Sergio Moro voltará a fazer suas estrepolias seletivas, tentando atingir Dilma Rousseff.

O escândalo todo serve maravilhosamente à oposição midiática, serviçal de obscuros poderes econômicos.

Com um congresso enfraquecido e um governo instável, a mídia amplia seu poder.

Para a maioria da população, oprimida entre uma mídia manipuladora e um governo afônico, os políticos listados são culpados por antecipação.

O caso mais sólido da Lista de Janot, o senador Aécio Neves, cujas implicações nos desvios de Furnas não são baseadas apenas nas delações, mas em documentos inúmeros presentes em outro inquérito, foi arquivado a pedido do próprio Janot...

Não se pode acusar, todavia, o Ministério Público Federal de ser incompetente em matéria de comunicação. Esse defeito é um privilégio do governo federal.

O MPF fez um hotsite espetacular sobre a Lava Jato, com diagramas detalhados.


Claro que o MPF jamais faria algo assim para investigar o trensalão, a compra de votos para a reeleição, a privataria, o Banestado, o mensalão tucano, a lista de Furnas, o Suiçalão.

No caso da AP 470, o MPF mandou fazer até uma historia em quadrinhos para criança.

Ainda está lá, no site do MPF: a “turminha do MPF” fala de um assunto bem sério, o mensalão.

É o único escândalo político que recebeu esse tipo de atenção do MPF.

Quando o escândalo serve a um propósito midiático, o MP não mede esforços, não economiza recursos.

O MP jamais gastou tempo ou dinheiro mandando promotores à Suíça para investigar o trensalão ou Suiçalão, mas já mandou seus melhores quadros à Itália para pressionar o país a extraditar Pizzolato.

No caso do trensalão, havia depoimentos consistentes; não de bandidos contumazes, mas de executivos honestos, acusando tucanos e o governo de SP de receber propinas. Há provas, contas na Suíça, valores.

Não valeram de nada.

O procurador “esqueceu” o processo numa gaveta por anos, só o encontrando após o caso se tornar um vexame internacional, quando o ministério público suíço fez uma reclamação formal pública contra a negligência de nossas autoridades.

O procurador foi absolvido. E o trensalão vai sendo novamente engavetado e esquecido.

No caso da compra de votos, tínhamos a confissão de dois deputados. E, sobretudo, tínhamos a emenda da reeeleição, um caso absurdo de governante que muda a lei em benefício próprio. Os bolivarianos, quando fizeram algo parecido, tiveram ao menos o escrúpulo democrático de eleger uma nova assembléia constituinte, e consultar o povo através da realização de plebiscitos.

Aqui, não. Foi uma patranha palaciana blindada e apoiada pela grande mídia.

Quando os depoimentos sobre a compra de votos vazaram, ninguém se interessou em aprofundar as investigações.

E agora estamos diante de nova patranha.

Não importa se as acusações contra diversos parlamentares são inconsistentes. O caso servirá de pretexto para quebras de sigilo e perseguições midiáticas implacáveis. Senão forem encontradas provas, o MP tratará de montar alguma teoria mirabolante, como fez na Ação Penal 470, onde a ausência de provas para condenar Dirceu fez a procuradoria lançar mão da Teoria do Domínio do Fato.

Lembrando: os mesmos procuradores que assessoram Gurgel a escrever a acusação da Ação Penal 470 são responsáveis pela Lava Jato.

O mesmo Sergio Moro que escreveu o texto fascista de Rosa Weber, dizendo que condenaria Dirceu mesmo sem provas, é o responsável pela Lava Jato, mantendo executivos presos a mais de 100 dias em troca de delações que atinjam o governo. Já conseguiu com os mais descarados e os mais doentes, como Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef e Barusco.

Agora, parece estar conseguindo com executivos da Camargo Correa.

As delações, como se vê, não precisam sequer ter consistência.

Os delatores dizem ter “ouvido falar isso e aquilo”, e pronto, são absolvidos por Sergio Moro.

Esperemos agora que os acusados tenham a inteligência que os réus da AP 470 não tiveram, e entendam que é preciso montar uma estratégia política em conjunto. E denunciar o golpe em andamento.

Até mesmo a inclusão de Eduardo Cunha e Renan Calheiros pode ser parte de uma armação. Porque, se a acusação contra eles não for consistente, e for arquivada, os dois irão tentar resgatar sua imagem perante a mídia entrando no jogo, assumindo o papel de inquisidores implacáveis.

Meu Brasil brasileiro! Até o momento, está tudo dominado.

As coisas, pelo jeito, ainda devem piorar muito antes de começarem a melhorar."


FONTE: escrito pelo jornalista Miguel do Rosário em seu blog "O Cafezinho" (http://www.ocafezinho.com/2015/03/07/a-montanha-pariu-um-rato-ou-melhor-pariu-um-golpe/).

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