segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A HIPOCRISIA DAS DENÚNCIAS E A BLINDAGEM DOS GRANDES GRUPOS




"Algumas considerações sobre a delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.

Costa traz indícios daquele que provavelmente é o mais amplo caso de corrupção política sistêmica do país. A desenvoltura com que atuou na Petrobras comprova que dispunha de uma carta em branco. Há pelo menos seis anos, rumores sobre sua atuação corriam o mercado. É evidente tratar-se de uma peça da real politik de governo.

A data escolhida para a divulgação - 7 de setembro, aliás mesma data da eclosão do escândalo Erenice - e as informações [vagas e seletivas] divulgadas até agora [pela "Veja"e repetidas pela mídia] sugerem muito mais uma chantagem, com elementos políticos, do que elementos concretos para condenar os acusados: políticos e empresas. Uma denúncia exige dados concretos, datas, documentos, comprovação de pagamentos. Costa traz relatos. É como se avisasse: se me deixarem na mão apresento as provas. Ou então é possível que "Veja" tenha feito um cozidão atribuindo-o a Costa.

A denúncia significará um corte no atual modo de fazer política? Evidente que não, porque dificilmente os subornadores serão punidos. E porque uma apuração ampla dos desvios políticos não poupará nenhum partido.

Além disso, até hoje nenhuma investigação envolvendo grandes grupos prosperou na Justiça.

O "mensalão" só foi adiante depois que o Procurador Geral da República inicial, Antonio Fernando de Souza, o sucessor Roberto Gurgel e o relator Joaquim Barbosa ["gentilmente"?] tiraram o "Opportunity" da jogada...

A "Satiagraha" parou, assim como a operação da Polícia Federal que levantou subornos da Camargo Correia - apanhando com a boca na botija o então chefe da Casa Civil do governo Alckmin Arnaldo Madeira (que a campanha de Aécio cometeu a imprudência de colocar na coordenação paulista). Nos dois casos, alegou-se "escutas ilegais", álibis formais para justificar a blindagem desses grupos.

O próprio episódio do "buraco do Metrô" resultou em um acordo nebuloso entre o governo José Serra, o Ministério Público Estadual e as empresas, pelo qual as diretorias foram poupadas e as empresas tiveram a liberdade de indicar um funcionário para o cadafalso...

Em ambos os casos, os grupos de mídia não manifestaram indignação. O que comprova que denúncias e indignação são armas políticas ou de chantagem, não instrumentos de melhoria institucional.

Não há velha e "nova política".

Há a mesma política velha atingindo todos os grupos. O envolvimento direto do ex-governador Eduardo Campos com o esquema Costa tira a aura de pureza da candidatura Marina. Não fosse o envolvimento direto de grandes grupos econômicos blindados na Justiça, o episódio Paulo Roberto Costa seria mais agudo que o "mensalão".

O PSDB tem os escândalos do Metrô [Porém, os escândalos tucanos sempre são abafados pela grande mídia e parece haver extrema preguiça da Justiça em julgá-los. Exemplos claros são a compra de votos para a reeleição de FHC/PSDB, a "Lista de Furnas", o mensalão tucano e muitos outros. Passam décadas adormecidos nas gavetas do Ministério Público e do Judiciário].

Mais uma vez, o episódio será utilizado como elemento político de lado a lado. Mas a mãe de todos os crimes - o financiamento privado de campanha - continuará graças a atuação do ínclito Ministro [do STF] Gilmar Mendes."

FONTE: escrito por Luis Nassif no "Jornal GGN"  (http://jornalggn.com.br/noticia/a-hipocrisia-das-denuncias-politicas-e-a-blindagem-dos-grandes-grupos).[Trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].

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