quarta-feira, 13 de agosto de 2014

POR QUE OS CANDIDATOS DA MÍDIA NÃO DECOLAM?




Um panorama quase surreal

Por RIBAMAR FONSECA

"Por que, apesar do apoio escancarado da chamada Grande Imprensa, Aécio e Campos não saem do lugar nas pesquisas?

A última pesquisa do Ibope sobre a corrida presidencial, encomendada pela Globo e divulgada na semana passada, revela que o quadro eleitoral permanece praticamente inalterado: de acordo com os números a presidenta Dilma Rousseff seria reeleita no primeiro turno, enquanto os dois principais candidatos oposicionistas – Aécio Neves e Eduardo Campos – continuam patinando nos mesmos segundo e terceiro lugares. Surge, então, uma pergunta: por que, apesar do apoio escancarado da chamada Grande Imprensa, Aécio e Campos não saem do lugar? A resposta é simples: porque eles ainda não conseguiram sensibilizar o eleitorado.

É fácil perceber que os dois candidatos da oposição não conseguem avançar na corrida sucessória porque adotaram um discurso semelhante, sem bandeiras, onde o foco é a crítica contundente, algumas até grosseiras, à Presidenta da República. Não existem propostas e eles aproveitam os factóides quase diários criados pela Grande Mídia para atacar a sua concorrente. Para completar, o PSDB montou uma chapa puro-sangue, cujo candidato a vice, o senador Aloysio Ferreira, de pavio curto e inteligência limitada, não soma votos e, muito pelo contrário, os subtrai com declarações do tipo "as donas de casa têm horror a Dilma". Onde ele obteve tal informação? Houve alguma pesquisa específica com as donas de casa? Esse é o tipo de declaração que tira votos, pois é óbvio que ela não se sustenta em nenhum dado concreto.

São declarações como essa, inconsequentes, que contribuem para que os oposicionistas corram sem sair do lugar, como se estivessem numa esteira de academia. Isso é uma prova evidente de que o povo não digere mais críticas tolas e agressivas, com objetivos nitidamente eleitoreiros. Graças a outros meios de comunicação, como a internet, por exemplo, o Brasil mudou e hoje o eleitorado torce o nariz para os candidatos que não fazem outra coisa a não ser atacar os seus adversários, sem apresentar propostas para a solução dos problemas do país. Um retrato da nova situação é a atitude da maioria dos jovens que, descrentes dos políticos, segundo recentes pesquisas, desistiram de exercer o voto facultativo nestas eleições, não se alistando para o pleito. Apesar do crescimento populacional, o número de jovens aptos a votar caiu este ano para apenas 26%.

Os candidatos Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB, ainda não se deram conta de que estão cometendo o mesmo êrro, com o mesmo discurso em que se concentram em fazer duras críticas à Presidenta, na maioria das vezes apoiando-se apenas em notícias de jornais e revistas. Eles conseguem, com isso, dar a nítida impressão de que estão muito mais interessados em conquistar o poder do que, verdadeiramente, em fazer algo pela melhoria do país e da qualidade de vida do seu povo. Estão subestimando a inteligência do eleitorado, que já não se deixa mais influenciar por discursos vazios, viciados por agressões inexplicáveis, onde se procura desgastar moralmente o adversário para vencê-lo nas urnas. O povo não se deixa mais enganar por discursos, como do ex-presidente Fernando Henrique em sua primeira eleição, quando ofereceu o paraíso com uma das mãos e, depois de eleito, governou com a outra, que manteve escondida durante a campanha segurando os projetos de reeleição e privatizações.

Por outro lado, a tentativa de responsabilizar-se a Presidenta por tudo o que de ruim acontece no país, sobretudo por pecados atribuídos a governistas, já não tem repercussão entre o eleitorado. A insinuação de que a invasão e alteração do perfil da jornalista Miriam Leitão na internet teria sido ordenado por Dilma, como decorrência de uma suposta "política de Estado" destinada a cercear a liberdade de imprensa, é um absurdo. Será que alguém acreditaria que a Presidenta da República desceria das suas tamancas [em maio 2013] para mexer no perfil de um jornalista? Com que objetivo? O que semelhante atitude, sem dúvida marginal, contribuiria para a sua reeleição? Qual o benefício para o seu governo? Estão zombando da inteligência do povo e do seu poder de discernimento.

Ao mesmo tempo, jornalistas formadores de opinião que mantém colunas nos grandes veículos - e que evidenciam uma posição nitidamente oposicionista - vão perdendo credibilidade à medida que suas ligações com partidos de oposição vão sendo descobertas, inclusive sua participação em conchavos destinados à montagem de chapas. E pior: passam a ser vistos com suspeição quando o Wikileaks revela seus vínculos com o governo norte-americano, a quem prestam contas do conteúdo de suas colunas através da representação diplomática. O brasileiro que ama o seu país começa, então, a fazer ilações e a tentar descobrir os verdadeiros motivos do esforço midiático em minar o prestígio internacional da maior empresa estatal brasileira – a Petrobrás. Tais conjecturas, por via de consequência, acabam influenciando na decisão do voto nas eleições presidenciais deste ano. Esse o atual – e quase surreal - panorama político do país."

FONTE: escrito por Ribamar Fonseca no jornal digital "Brasil 247"  (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/149735/Um-panorama-quase-surreal.htm).

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