sexta-feira, 11 de julho de 2014

O JORNALISMO BRASILEIRO PRECISA SE REINVENTAR


Janio de Freitas afirma que o jornalismo precisa se reinventar

Do "Jornal GGN"


"O colunista da 'Folha de S. Paulo', Jânio de Freitas, chamou a atenção quinta-feira, em sua coluna, para a necessidade de o jornalismo reagir.

No final da coluna, ele aponta os vícios do novo jornalismo. Diz ele que, mal terminou o jogo da Alemanha, já havia reportagens na "Folha" e no "Globo" informando sobre a nova "estratégia do governo" decorrente do "temor" e do "mau humor" que a derrota teria instalado no Planalto.

Chamou a atenção do jornalista o fato de ambos os jornais terem utilizado a mesma expressão - "sinal de alerta" - para analisar o episódio e os humores do Planalto.

Palavras de mudança

O jornalismo brasileiro está precisando de uma reviravolta mais ou menos como a pedida para o futebol

Janio de Freitas

"A variedade dos adjetivos foi pequena. Não por escassez vocabular de quem os emitiu nos jornais e nas emissoras, mas porque o acontecimento não suscitava mais do que palavras com força dramática. E todas serviram para conduzir à mesma ideia, também expressa com pequena variedade: é preciso mudar tudo no futebol brasileiro, que seja o fim de uma era, é o momento de iniciar uma ressurreição. A ideia é o que importa, e é boa. Para torná-la real, nada seria mais eficiente do que começar pelos que a propõem.

A imprensa e os jornalistas são muito democráticos: têm a convicção de que tudo e todos são sujeitos à crítica. Desde que não sejam a imprensa e os jornalistas. Apesar disso, é preciso dizer que os mal denominados "meios de comunicação" têm uma parcela --de difícil mensuração, mas não pequena-- nas causas do que está chamado de "humilhação, catástrofe e vergonha". E parcela maior no choque emotivo das pessoas em geral, reação que corresponde à expectativa esperançosa de que estiveram imbuídas.

Jogadores justificam ou não as expectativas boas ou ruins. Não pregam, porém, ânimos ou desânimos coletivos, sejam ou não fundados. Quem pode fazê-lo são outros. E são muitos os que fazem e por diferentes maneiras.

Não cabe dizer que os torcedores são dependentes das induções, porque nos esportes têm a possibilidade do testemunho que lhes falta na política. Mas a verdade é que são cabeças e almas muito sugestionáveis, muito sensíveis ao estímulo a paixões. (Dizem que é uma característica dos povos latinos, mas basta uma olhada na tendência dos americanos para os fanatismos, patrioteiros e outros, e constatar que não temos exclusividade na matéria). E foi isso o que se viu, com origens também perceptíveis.

Antes e depois de iniciada a Copa, o nível médio da franqueza foi muito baixo nos comentários sobre a seleção, em contraste com a crítica, em âmbito privado, de muitos dos mesmos autores profissionais. Ou pelo que transparecia nas entrevistas de seu trabalho público. Os amistosos com timecos, inclusive já às vésperas da Copa, com Sérvia e Panamá, prenunciaram o que viria depois. A contenção das análises naquele antes também se mostrou no depois. Já a escolha de Felipão contrariara a amplíssima preferência por outro treinador, talvez Tite, sem que isso se mostrasse com firmeza na imprensa esportiva. Os fatos mostraram que a preferência era justificada, e fez falta.

Se o tempo de vida em contato com a imprensa e com a opinião pública vale alguma coisa, é a partir dele que concluo pela contribuição da baixa média de franqueza crítica para a ocorrência do desacerto, continuado e progressivo, que levou à "vergonha". E do mesmo modo se faz a minha convicção de que o ambiente ficou livre para que a falta de observações firmes, a tendência nacional ao oba-oba e os interesses comerciais se juntassem na criação do otimismo mentiroso. Logo, também na decepção doída como um luto.

O jornalismo brasileiro está precisando de uma reviravolta mais ou menos como a pedida para o futebol. A na área dos esportes, que poderia ser iniciada com menos obstáculos. Até porque a Olimpíada vem aí.

Ainda sobre a adjetivação da goleada engolida, sua destinação pareceu transbordar do alvo justo --a comissão técnica e os jogadores. Nada de "vergonha" ou "humilhação" nacional. Para os brasileiros, a derrota foi não mais do que estonteante. E não para todos. No curto tempo entre o fim do jogo e a edição dos jornais, segundo certo noticiário, o governo foi capaz até de projetar uma nova "estratégia", que "agora é colar sua imagem apenas à organização". Isso é que é governo veloz, segundo o emitido "sinal de alerta" (na expressão idêntica da "Folha" e do "Globo") decorrente do "temor" e do "mau humor" que a derrota instalou no Planalto."

FONTE: escrito por Janio de Freitas, na "Folha de São Paulo" e postado e comentado no "Jornal GGN"  (http://jornalggn.com.br/noticia/janio-de-freitas-afirma-que-o-jornalismo-precisa-se-reinventar).

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