terça-feira, 11 de março de 2014

OS DISFARCES DA JUSTIÇA E DA IMPRENSA PARA PROTEGER O PSDB




[Eufemismos espertamente usados para esconder a corrupção tucana: "Cartel da Siemens", "Cartel da Alstom", "Mensalão mineiro", "Máfia dos fiscais", "venda de votos" para reeleição de FHC (quem comprava com dinheiro público não interessa),  "escândalo do grampo" (o crime desvendado não interessou, somente quem o descobriu com "o grampo") etc etc] 

"Cartel dos transportes" em SP: imprensa andando em círculos

"Os jornais fazem uma cobertura irregular e bissexta do caso que envolve a formação de um "suposto esquema" de propinas que tem atrasado e provocado o encarecimento das obras do sistema de transporte sobre trilhos em São Paulo. Em algumas circunstâncias, o noticiário se refere ao “cartel da Siemens”; em outras, concentra-se em "denúncias envolvendo a empresa francesa Alstom" – e o leitor vai sendo conduzido em círculos, sem que a imprensa procure o ponto central da questão.

Por Luciano Martins Costa, no "Observatório da Imprensa"

E qual seria esse ponto?

Na quinta-feira (6/4), os jornais informam que as duas principais empresas envolvidas no escândalo usaram firmas de fachada, sediadas no Uruguai, para pagar propinas dissimuladas em contratos de consultoria. No entanto, essa informação é velha, nascida em uma investigação feita pela Polícia Federal em 2008. A novidade é a revelação de que, desde então, o Ministério Público Federal em São Paulo tem dormido em cima do inquérito!

O ponto que deveria estar atiçando a curiosidade dos jornalistas é: quem se beneficia com a "negligência" de alguns procuradores?

Os dois principais jornais paulistas demonstram maneiras diferentes de interesse em tratar dessa "sonolência" dos promotores: a "Folha de S.Paulo" se concentra numa disputa entre a Procuradoria Geral do Estado e o Ministério Público, citando o fato de que a Procuradoria, sob orientação do governador Geraldo Alckmin, processou apenas as empresas acusadas de cartel, deixando de fora da denúncia os servidores e ex-assessores do governo suspeitos de operar o esquema das fraudes.

Já o "Estado de S. Paulo" foi ouvir autoridades uruguaias responsáveis pelo combate à lavagem de dinheiro e revela que o Ministério Público em São Paulo nunca pediu esclarecimentos sobre a suspeita envolvendo as duas multinacionais instaladas no centro do escândalo. Segundo a fonte citada pelo jornal, bastaria um pedido bem fundamentado para os investigadores brasileiros terem acesso a dados financeiros que comprovariam o uso de firmas de fachada para pagamento de propina. Em alguns casos, a informação poderia ser obtida em questão de horas, o que aumenta as "suspeitas" sobre os procuradores que engavetaram o caso durante seis longos anos.

Um caso de amnésia seletiva

O noticiário coloca no centro dessa articulação para retardar o inquérito o procurador Rodrigo de Grandis, que demonstra grande disposição para o trabalho, mas tem sido citado pela imprensa como "vítima de estranho caso de amnésia": ele já “esqueceu” em suas gavetas pedidos do governo da Suíça para investigar a Alstom, deixou no arquivo morto uma lista de autoridades, empresários e lobistas citados em investigações sobre o setor de energia [do Estado de SP], e agora aparece como tendo se omitido também na tarefa de apurar as operações financeiras feitas no Uruguai pela suposta quadrilha.

Interessante comparar a cobertura da imprensa, sobre a atuação do procurador paulista, com o massacre a que foram submetidos o delegado Protógenes Queiroz e o juiz federal Fausto Martin de Sanctis no caso "Santiagraha".

Por tudo que a imprensa informa que ele deixou de fazer, há muito o procurador Rodrigo de Grandis deveria ter seu perfil analisado pelos jornalistas. Por que ele é poupado?

Uma resposta grosseira, rude e nascida de pouca reflexão seria: porque ele seria a chave para compreender o esquema [corrupto] que domina o governo paulista há vinte anos, e que tem como uma de suas consequências o sufoco que se impõe diariamente aos usuários do sistema dos trens metropolitanos e do metrô de São Paulo.

Outra resposta poderia ser: o procurador está "assoberbado de trabalho", e alguns dos casos que lhe foram atribuídos inevitavelmente sofrem atrasos. Mas essa alternativa exigiria um grau de candura que não combina com o jeito de ser dos jornalistas, treinados na arte da desconfiança – De Grandis precisaria de um apoio poderoso para obstruir um caso dessa envergadura.

Coincidentemente, as informações que faltam supostamente conduziriam à conclusão de que estamos diante de um escândalo de proporções gigantescas, envolvendo personalidades do maior partido de oposição.

Colocados sobre a mesa, os fragmentos do noticiário induzem o leitor mais desconfiado a enxergar o roteiro de um assalto sem precedentes ao Erário, organizado e persistente, com elementos dignos de uma história da máfia. Mas, andando em círculos, a imprensa não parece disposta a chegar ao epílogo."


FONTE: escrito por Luciano Martins Costa, no "Observatório da Imprensa" (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=237224&id_secao=6). [Título e subtítulo acrescentados por este blog 'democracia&política'].

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