quarta-feira, 4 de julho de 2012

BRASIL DESENVOLVE FOGUETE LANÇADOR DE SATÉLITE EM PARCERIA COM ALEMANHA


Esquema do VLM-1

Por Virgínia Silveira, no jornal “Valor”

“O Brasil está desenvolvendo um novo foguete em parceria com o ‘Centro Aeroespacial Alemão’ (DLR) para lançar o experimento científico SHEFEX 3 (da sigla em inglês “Sharp Edge Flight Experiment”). Trata-se de programa europeu que vem testando o comportamento de novos materiais e tipos de proteção térmica necessários para o desenvolvimento de tecnologia de voos hipersônicos e de veículos lançadores reutilizáveis.

Enquanto o novo foguete, batizado de VLM-1 (Veículo Lançador de Microssatélites) não fica pronto, o “Programa Europeu de Microgravidade” vem usando, desde 2005, os foguetes de sondagem desenvolvidos pelo “Instituto de Aeronáutica e Espaço” [IAE], órgão de pesquisa e desenvolvimento do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial [DCTA, da Aeronáutica].

O centro alemão está bancando 25% dos custos de desenvolvimento do VLM-1, cujo investimento total é estimado em R$ 100 milhões. A Agência Espacial Brasileira [AEB] está destinando R$ 10 milhões ao projeto para este ano.

O foguete brasileiro vai atender às necessidades do programa espacial alemão e entrar em nicho de mercado pouco explorado. "Os concorrentes do VLM são os foguetes de grande porte, que levam os microssatélites de carona. Não existe no mercado veículo específico para o lançamento de microssatélites e nanossatélites, segmento que está crescendo muito devido à miniaturização da tecnologia eletrônica", explicou o coordenador do projeto no Instituto de Aeronáutica e Espaço, Luís Eduardo Loures.

Maquete do VS-40 (sem o estágio dianteiro, da carga útil)

No dia 24 de junho, um foguete de sondagem brasileiro VS-40 lançou o experimento "Shefex 2", a partir do Centro de Andoya, na Noruega.

 Maquete do VSB-30

O foguete brasileiro VSB-30 já realizou 13 missões bem-sucedidas na Europa em parceria com a organização alemã. No total, o Brasil já conseguiu atingir a marca de 18 lançamentos sem falhas com seus foguetes de sondagem VS30, VSB-30 e VS-40.

O Centro alemão vai arcar com 25% do projeto, que poderá receber investimento total de R$ 100 milhões

A operação do "Shefex 2", financiada pela Alemanha, teve custo de € 10 milhões de euros. Considerado o principal programa espacial da Alemanha, o "Shefex 2" consumiu outros € 6 milhões no desenvolvimento do experimento que foi lançado pelo foguete brasileiro.

Loures explicou que a principal diferença do novo foguete, que está sendo desenvolvido para suportar a missão Shefex 3 em 2015, está na capacidade dos motores. O veículo [VSB-40] leva menos de 5 toneladas de propelente (combustível de foguete), enquanto o VLM-1 poderá levar cerca de 28 toneladas desse combustível.

O projeto do "Shefex 3" também já está sendo feito em parceria com a indústria brasileira, que negocia a formação de um consórcio para participar desse novo desenvolvimento. "Estamos criando um projeto que dará sustentabilidade para a indústria nacional, porque o produto final tem mercado e um custo de lançamento baixo, inferior a US$ 10 milhões" [por unidade], ressaltou.

Concorrentes do porte do lançador americano "Taurus", por exemplo, segundo Loures, têm custo de lançamento da ordem de US$ 20 milhões. Loures comentou que outros foguetes estrangeiros, como os russos "Dnepr" e o "Cosmos", e o indiano "PSLV" têm custo da ordem de US$ 25 milhões a US$ 30 milhões, mas foram projetados para lançar cargas acima de mil quilos em órbita baixa.

Os [lançadores de] microssatélites, segundo Loures, apresentam como vantagem o baixo custo de produção, nível de complexidade reduzido e ciclo de desenvolvimento rápido. "Devido à demanda crescente, já existe mercado identificado para pequenos foguetes do porte do VLM-1, de três lançamentos por ano, segundo a agência americana Federal Aviation Administration (FAA)", disse ele.

O pesquisador comentou que alguns estudos já indicam mercado ainda mais promissor, de cerca de 20 lançamentos anuais. O ciclo de desenvolvimento dos [lançadores de] microssatélites é de dois anos, mas como eles são lançados com [lançadores de] satélites maiores, [esses microssatélites] precisam esperar até um ano para conseguir uma vaga nos lançadores de maior porte.

RAPIDEZ NA PRODUÇÃO E LEVEZA COM FIBRA DE CARBONO

 VLM, VLS-1 e VLS-Alfa (todos com cerca de 20m de comprimento)

O lançamento do experimento científico alemão "Shefex 3" será feito pelo foguete brasileiro VLM-1, a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão. O veículo possui três estágios e pode ser utilizado como foguete de sondagem para cargas úteis (microssatélites e nanossatélites) mais pesadas, de até 500 quilos. No total, o VLM-1 pesará 28 toneladas.

"Adotamos a estratégia de desenvolvimento simplificado com projetos que já funcionam bem", explicou o coordenador Luís Eduardo Loures, do Instituto de Aeronáutica e Espaço.

O pesquisador citou como exemplo o segundo estágio do foguete VS40-M, que lançou o "Shefex 2" recentemente e tem 90% de similaridade com o terceiro estágio do VLM-1. A parte eletrônica do VLM, segundo Loures, corresponde a 70% da eletrônica que está sendo adotada para o Veículo Lançador de Satélites, em fase final de desenvolvimento.

O primeiro e segundo estágios do novo foguete, porém, terão motor novo, batizado de S50, o maior motor foguete já feito pelo Brasil. O diferencial do S50, segundo Loures, é que ele está sendo feito em fibra de carbono, o que garantirá um desempenho estrutural melhor, além de pesar menos que os motores metálicos.

O tempo de produção também é considerado uma vantagem, pois pode ser fabricado em apenas três meses, comparado a um motor foguete metálico, que leva de 18 a 20 meses. Outro diferencial do VLM-1 é o desenvolvimento em parceria com a indústria nacional.”

FONTE: reportagem de Virgínia Silveira no jornal “Valor Econômico” (http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?datan=03/07/2012&page=mostra_notimpol) [Título, imagens do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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