segunda-feira, 9 de abril de 2012

O QUE ESTÁ EM JOGO NAS MALVINAS

Por Mair Pena Neto

“Em 1982, como repórter de ‘O Globo’, integrei a equipe responsável pela cobertura da Copa do Mundo na Espanha. A mim, coube acompanhar a seleção anfitriã, que jogou a primeira fase em Valência, contra Honduras, Iugoslávia e Irlanda do Norte. A Espanha ainda não contava com craques do nível de Xavi, Iniesta e companhia, e passou a duras penas para as oitavas de final. Mas havia um outro assunto em pauta, tão presente, que interferia na disputa esportiva: a Guerra das Malvinas, que terminaria um dia após o jogo de abertura.

Os argentinos distribuíram a todos os jornalistas a tradicional revista esportiva “El Grafico”, que trazia na contracapa a mensagem “As Malvinas são argentinas”. Embora a Argentina estivesse dominada por uma sangrenta ditadura militar, que se valia do conflito para se manter no poder, havia solidariedade ao país vizinho pelo sentido imperialista da possessão pela Inglaterra de um território a 14 mil quilômetros de distância.

O desfecho da guerra foi mais uma tragédia para uma geração de argentinos, mas, também, o tiro de misericórdia na ditadura militar, que pouco mais de um ano depois entregou o poder ao primeiro presidente eleito desde 1976. Desde então, a Argentina vem revendo corajosamente a sua história, e a questão das Malvinas não poderia ficar de fora. O direito sobre as ilhas volta novamente à pauta, lançado por Cristina Kirchner, sem ações beligerantes, mas com o discurso da razão. Não existe sentido no domínio inglês sobre um arquipélago próximo à costa argentina que geograficamente se inclui como extensão da Terra do Fogo e da parte sul do país. Concordar com o direito inglês é legitimar um domínio colonial anacrônico e ilegítimo exercido por uma grande potência, saudosa dos tempos em que foi a maior do planeta.

Na disputa verbal sobre o controle das Malvinas, o primeiro ministro britânico David Cameron ganhou o prêmio Nobel da cara de pau ao mencionar “pretensões colonialistas” da Argentina sobre as ilhas que seu país [invadiu e] ocupa desde a primeira metade do século XIX. Os governantes ingleses também evocam o desejo e o estilo de vida, tipicamente britânico, dos habitantes das Malvinas como argumento para a manutenção do território sob seu domínio. Ora, se os ingleses tivessem invadido Fernando de Noronha há 200 anos e lá estabelecido uma colônia britânica, com chá das cinco e cabines de telefone vermelhas, teriam direito ao território brasileiro?

Isso é tudo uma grande piada e uma forma de desviar o eixo central da questão. O que está em jogo no domínio daquelas terras geladas na ponta do continente é o controle do sul do Atlântico, direitos sobre a Antártica e, sobretudo, petróleo, identificado pela primeira vez em 1998, e cuja extração se torna viável agora com a escalada dos preços do barril.

Analistas econômicos preveem impacto violento na disparada dos preços do petróleo –acima de US$ 100 - sobre uma economia global fragilizada, sobretudo na Europa. O Reino Unido encontra-se tecnicamente em recessão, e o peso do petróleo será cada vez maior para o país. A produção do Mar do Norte está em declínio, e novas fontes são necessárias para evitar um cenário de grave dependência energética.

Projeções técnicas estimam reservas de quase 8 bilhões de barris na bacia norte das Malvinas. Isso significa quase o triplo das reservas comprovadas do Reino Unido, de 3 bilhões de barris. As Malvinas são estratégicas geopolítica e economicamente. Se fosse apenas por meia dúzia de carneiros e um estilo de vida inglês de 3 mil pessoas, o território já teria sido devolvido, pois não valeria o custo de sua administração.”

FONTE: escrito por Mair Pena Neto, jornalista carioca. Trabalhou em O Globo, Jornal do Brasil, Agência Estado e Agência Reuters. No JB, foi editor de política e repórter especial de economia. Artigo publicado no site “Direto da Redação”  (http://www.diretodaredacao.com/noticia/o-que-esta-em-jogo-nas-malvinas).

5 comentários:

Probus disse...

Só faltou dizer que, quem tiver SOBERANIA sobre nas Ilhas MALVINAS, terá, também, o DIREITO de explorar a ANTÁRTICA...

E, que, quem está nas Ilhas MALVINAS, NÃO são os BRITÂNICOS, é a OTAN, é TODA a UNIÃO EUROPEIA através do ADENDO do Tratado de LISBOA de 2009, orquestrado por Gordon Brown.

E, das Ilhas MALVINAS se CONTROLA o Atlântico SUL, dando GUARITA ao IV Frota que, com certeza, está por lá, alguma dúvida??

Inglês = PIRATA(sempre PIRATA)

Unknown disse...

Probus,
A verdade está bem próxima do que você bem resumiu no comentário. Exceto um detalhe: o Tratado da Antártica "congelou" reivindicações territoriais e a exploração comercial da Antártica (as Malvinas estão fora da área proibida).
Maria Tereza

Probus disse...

Pra "eles" tem sempre um jeitinho...

Mas, se, Território Britânico, dá o DIREITO a "eles" futuramente e, o IV Frota está lá. Não precisa estar à mostra, seus submarinos não podem ser detectados em águas internacionais.

Maria Tereza, a Polônia tem base na Antártica porque??
Ou foram os chilenos que convidaram os poloneses para pesquisas conjuntas??

Unknown disse...

Probus,
Teoricamente, pelo Tratado da Antártica, segundo concordado na reunião internacional de 1991, por mais 50 anos, isto é, até 2041, a Antártica será "patrimônio de toda a Humanidade", livre para qualquer país realizar pesquisas científicas para fins pacíficos.
Você tem razão. No mundo real, que sempre seguiu a "lei do cão", os EUA, seus aliados da OTAN, Rússia, China etc vão querer, mais cedo ou mais tarde, usar a força e explorar econômica e militarmente aquele continente.
Maria Tereza

Probus disse...

Esse tratado é tratante e sem nexo, ora, o ÁRTICO, então, deveria seguir a mesma lógica, ser de TODOS.

Sei não, ainda acredito muito na força política do UNASUL e do PARLASUL, não existe nenhuma coerência PIRATAS no Atlântico Sul. Os BRICS + os países do Hemisfério Sul vão derrubar esse tratado sem lógica.
Aguardemos o passar dos anos, muito gelo vai derreter até lá, inclusive, a capacidade de influência da GALERA do EURO e do DÓLAR sobre a ONU, sobre o TPI, Haia e ADEMAIS.

Quando é para beneficiar os PIRATAS existem os "Acordos" Internacionais, só o capeta sabe como é são essas "negociatas"...

É feito o TNP...

Ou como os PIRATAS encontram tantos países comparsas para fazerem pressão contra a Síria...

Ou como o imbecil do BERNARD ARONSON, do jornaleco THE NEW YORK TIMES...

...O Brasil deveria impedir a propagação das armas nucleares...

...tomar uma decisão corajosa de pôr fim, voluntariamente, ao seu programa de enriquecimento de urânio...

...insistir que outras nações, incluindo o Irã, sigam seu exemplo...

...voluntariamente, pôs suas usinas nucleares à disposição dos inspetores da AIEA e, posteriormente, aderiu ao Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). Mas(MAS MAS MAS MAS MAS), em 2004, o país, que abriga a quinta maior reserva de urânio do mundo, proclamou que os Estados têm o “direito inalienável” de enriquecer urânio para “fins pacíficos”. Construiu, então, uma usina de enriquecimento e defrontou-se com a AIEA durante mais de um ano, antes de autorizar o acesso aos inspetores da agência...

...Se o país renunciar ao SEU DIREITO direito de enriquecer urânio em nome da paz internacional, fechar suas usinas de enriquecimento, acolher uma antiga proposta das Nações Unidas para aceitar urânio enriquecido da AIEA e permitir que a agência cuide do reprocessamento do seu combustível usado – basicamente a mesma proposta feita ao Irã – e insistir que outros Estados que assinaram o tratado ajam da mesma maneira, isso transformaria o debate nuclear...

...Uma nova posição do Brasil extinguiria o principal argumento do Irã, de que os Estados avançados possuidores de armas nucleares estão em busca de uma forma de “apartheid nuclear”. E isso possibilitaria ao Irã um modo de sair dignamente da situação e se aliar a outras nações num novo esforço multilateral para suspender o enriquecimento de urânio, em vez de sucumbir às ameaças e sanções ocidentais.

...se o Brasil e outros países em desenvolvimento desistirem de enriquecer urânio, isso permitirá um novo esforço internacional para eliminar as brechas existentes no TNP com relação ao enriquecimento de urânio de maneira permanente, por meio das emendas necessárias...