segunda-feira, 9 de abril de 2012

“O PRESIDENTE DEMÓSTENES TORRES” (assim queriam a mídia e as “elites”...)


"O PRESIDENTE DEMÓSTENES EM NOVA YORK"

Por Elio Gaspari, no “O Globo”

Setembro de 2015: Eleito presidente da República em novembro do ano passado, Demóstenes Torres chegou ontem a Nova York para abrir a Assembleia Geral das Nações Unidas. Reuniu-se com o presidente Barack Obama, de quem cobrou uma política mais agressiva contra os governos de Bolívia, Equador e Venezuela, “controlados por aparelhos partidários que sonham em transformar a América Latina numa nova Cuba”.

Antes de embarcar, Demóstenes abriu uma crise diplomática com o Paraguai, anunciando sua intenção de rever o tratado da hidrelétrica de Itaipu.

O presidente brasileiro assumiu prometendo fazer “a faxina ética de que o país precisa”. Para isso, criou um ministério com superpoderes, entregue ao ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes.

Numa reviravolta em relação a suas posições anteriores, o presidente apoiou um projeto que legaliza o jogo no país. Ele reestruturou o programa "Bolsa Família", reduzindo-lhe as verbas e criando obstáculos para o acesso aos seus benefícios. Patrocinou projetos reduzindo a maioridade penal para 16 anos, e autorizando a internação compulsória de drogados. Determinou que uma comissão especial expurgue o catálogo de livros didáticos distribuídos pelo Ministério da Educação.

Atualmente, percorre o país pedindo a convocação de uma Assembleia Constituinte. A oposição do Partido dos Trabalhadores denuncia a existência de uma aliança entre o presidente e quase todos os grandes meios de comunicação do país.

Ao desembarcar no aeroporto Kennedy, Demóstenes ironizou as críticas à presença de uma jovem assessora na sua comitiva: “Lamentavelmente, ela não é minha amante, porque é linda”.

À noite, o presidente compareceu a um jantar no restaurante "Four Seasons", organizado pelo empresário Claudio Abreu, que até março de 2012 dirigia um escritório regional de relações corporativas da empreiteira Delta. Abreu é o atual secretário-executivo da "Comissão de Revisão dos Contratos de Grandes Obras", presidida pelo ex-procurador geral Roberto Gurgel.

Chamou atenção na comitiva do presidente o fato de alguns integrantes carregarem celulares habilitados numa loja da Rua 46. Eles são chamados de “Clube do Nextel”.

Em 2012, a carreira do atual presidente foi ameaçada por uma investigação que o associava ao empresário Carlos Augusto Ramos, também conhecido como "Carlinhos Cachoeira", marido da ex-mulher do atual senador Wilder Pedro de Morais, que era suplente de Demóstenes.

O trabalho da Polícia Federal foi desqualificado pela Justiça. O assunto foi esquecido quando surgiram as denúncias do "BolaGate" contra o governo da presidente Dilma Rousseff envolvendo contratos de serviços e engenharia de estádios para a Copa do Mundo cancelada em 2013.

[OBS deste blog ‘democracia&política’: após essa interessante e espirituosa parte inicial do texto, o colunista do “O Globo” tenta incutir, a seguir, com maquiavélica sutileza, o conceito de que "Demóstenes acabou", mas o "conservadorismo continua" e se reerguerá com força; que esses escândalos são comuns. Assim foi feito com Fernando Collor. A mídia e os grandes conglomerados financeiros e econômicos utilizaram todos os meios, limpos e sujos, para eleger Collor. Descobertos indícios de corrupção, logo trataram de acusá-lo, enterrá-lo e lavar as mãos. Agora, também estão ansiosos por logo enterrar Demóstenes, porque o odor de podridão já contamina toda a oposição e mídia. No texto, Elio Gaspari, citando um desconhecido deputado do PT de Goiás mencionado na operação "Monte Carlo", tenta aliviar a pressão sobre a direita e planta também a idéia de que todos os partidos, inclusive o PT, estão envolvidos com a quadrilha de Cachoeira e Demóstenes]:

A eleição de campeões da moralidade é fenômeno comum no Brasil. Em 1959, Jânio Quadros elegeu-se montando uma vassoura. Em 1989, triunfou Fernando Collor de Mello.

O primeiro renunciou numa tentativa de golpe de Estado e terminou seus dias apoquentado por pressões familiares para que revelasse os números de suas contas bancárias no exterior.

O segundo deixou o poder acusado de corrupção e viveu por algum tempo em Miami, elegeu-se senador e apoiou a candidatura de Demóstenes. O tesoureiro de sua campanha foi assassinado.

Presente ao jantar do Four Seasons, o empresário Carlos Augusto Ramos não quis falar à imprensa. Ele hoje lidera o setor da indústria farmacêutica brasileira beneficiado pelos incentivos concedidos no governo anterior. Ramos chegou acompanhado pelo ministro dos Transportes, Marconi Perillo, que governou o estado do presidente e foi o principal articulador do apoio do PSDB à sua candidatura.

Uma dissidência do PT, liderada pelo deputado Rubens Otoni, também apoiou a candidatura de Demóstenes. O presidente anunciou que a BingoBrás será presidida por um ex-petista.

Abril de 2012: Quem conhece o tamanho do conto do vigário moralista de Fernando Collor e Jânio Quadros sabe que tudo o que está escrito aí em cima poderia ter acontecido. “

FONTE: escrito por Elio Gaspari no jornal “O Globo”  (http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?cod_post=439431&ch=n) [Título, imagem do Google e trecho entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

2 comentários:

Probus disse...

CONFESSO, é muita criatividade de GAGÁspari.

Mas,como você mesmo salienta Maria Tereza, tem muita "cosita" intrínseca neste texto e, como MUITO bem descreve Paulo Henrique Amorim sobre o autor: "o homem dos MÚLTIPLOS chapéus".

Unknown disse...

Probus,
Elio Gaspari tem muitos chapéus, porém todos dos modelos adotados por Reinaldo Azevedo, da Veja. Ele disfarça muito bem, com estilo, mas nunca me enganou. Li quatro livros dele sobre a ditadura. Despercebidamente, passa todos os recados da direita.
Maria Tereza