terça-feira, 24 de abril de 2012

ILHAS MALVINAS: "BRASIL APOIOU TRÁFICO DE ARMAS PARA ARGENTINA"

Litígio entre Argentina e Inglaterra nas ilhas Malvinas —Explosão da fragata inglesa "Antelope" no Estreito de Sam Carlos (Arquivo O Globo)

[OBS deste blog ‘democracia&política: o texto a seguir contém informações interessantes sobre a Guerra das Malvinas. Contudo, deve ser lido considerando que é tendencioso pró-Inglaterra e EUA. Isso não é para estranhar, pois o jornal “O Globo”, o portal UOL (da “Folha”) e a agência estatal espanhola de notícias EFE são tradicionalmente instrumentos dos interesses dos EUA e seus aliados. Assim, por exemplo, já no título, o apoio aos argentinos é classificado como “tráfico de armas para Argentina”, enquanto que no texto o fornecimento de armas, imagens de satélites e apoio logístico dos EUA e aliados à Inglaterra é denominado eufemicamente como “o suporte norte-americano” e não como “tráfico clandestino de armas para a Inglaterra”. Mais adiante, a reportagem informa que “os militares argentinos haviam desafiado o Reino Unido invadindo o arquipélago Malvinas” sem explicar que os verdadeiros invasores daquele arquipélago são os ingleses. A Argentina tentou, sem êxito, expulsar os invasores. Vejamos o texto de "O Globo"]:

PONTE AÉREA MONTADA POR URSS E CUBA, COM AUXÍLIO DE KHADAFI, TEVE DOIS VOOS DIÁRIOS

Por José Casado e Eliane Oliveira, do “O Globo”

“As nuvens prenunciavam chuva forte em Brasília na noite da sexta-feira 9 de abril de 1982. O chanceler Ramiro Saraiva Guerreiro assistia ao "Jornal Nacional", quando recebeu um telefonema do brigadeiro Saulo de Mattos Macedo, chefe do Comando Aéreo Regional: um avião cubano invadira o espaço aéreo brasileiro.

 
Ilyushin II 62-M

No mundo da Guerra Fria, Brasil e Cuba não mantinham relações diplomáticas. Por esse motivo, pela manhã, o Itamaraty negara permissão a um voo da “Cubana de Aviación” rumo a Buenos Aires. Às 20h40m, o chanceler telefonou para o presidente da República, general João Figueiredo. Minutos depois, dois caças [Mirage III] decolaram da base de Anápolis — com alguma dificuldade porque a iluminação da pista fora afetada por tempestade com raios — em direção ao ponto indicado pelos radares, 300 quilômetros a oeste de Brasília.

Mirage III da FAB

Seguiu-se [a interceptação noturna, em meio à tempestade e] um tenso balé noturno a oito mil metros de altitude. Durou tensos 82 minutos. Só acabou quando os pilotos brasileiros anunciaram a decisão de atirar.

O jato russo Ilyushin II 62-M, matrícula CUT-1225, aterrissou em Brasília às 22h12m. Impressionou agentes da Aeronáutica por um detalhe: tinha capacidade para decolar com 165 toneladas de peso e 180 passageiros, mas na cabine estavam apenas três pessoas — o diplomata cubano Emilio Aragonés Navarro, mulher e neto. Só puderam seguir viagem depois de seis horas de negociações entre os governos do Brasil e da Argentina. Nada se sabe sobre a carga.

Interior do Ilyushin II 62-M

Navarro chegou a Buenos Aires por volta das 7h de sábado, 10 de abril, com uma mensagem do líder cubano Fidel Castro para o presidente argentino, general Leopoldo Galtieri: oferta de armas e tecnologia de informações, sob patrocínio da União Soviética, para o conflito com o Reino Unido.

Começava uma operação de suprimento "clandestino" de armas para a Argentina, montada pela URSS, negociada por Cuba, e com participação do Brasil, Peru, Líbia e Angola.

Foi um episódio singular na lógica da Guerra Fria. Os russos mobilizaram Fidel para socorrer uma ditadura militar ferozmente anticomunista, que confrontava o principal aliado dos Estados Unidos na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) — o sistema de defesa criado para conter uma eventual invasão soviética na Europa.

Uma semana antes, na madrugada de 2 de abril, os militares argentinos haviam "desafiado" o Reino Unido "invadindo" o arquipélago Malvinas, a 500 quilômetros da costa. Pressupondo o apoio dos EUA, Galtieri contara ao embaixador norte-americano, Harry Schlaudemann, sua pretensão de ficar no poder por mais cinco anos, no mínimo. Só não calculara a reação determinada da primeira-ministra Margareth Tatcher — "o homem forte do Reino Unido" aos olhos do presidente Ronald Reagan.

Tatcher recebera em Londres o secretário de Estado dos EUA, Alexander Haig, na noite anterior à interceptação do avião cubano em Brasília. "A menos que impeçamos os argentinos de ter êxito, todos somos vulneráveis", ela comentou, conforme registros oficiais. Haig confortou-a: "Estou seguro de que a senhora sabe que não somos imparciais".

Ela despachara uma frota para as Malvinas, a 13 mil quilômetros de distância. Na conversa, agradeceu o "suporte" norte-americano, a partir da base da Ilha de Ascensão. Instaladas a 2,7 mil quilômetros da costa brasileira, na altura de Pernambuco, as antenas ali plantadas são os "ouvidos eletrônicos" de Washington no Atlântico Sul.

Antes de se despedir de Haig, Tatcher o conduziu a uma sala da residência oficial. E "deliberadamente" mostrou-lhe retratos de heróis britânicos das guerras napoleônicas, o almirante Horatio Nelson e o general Duque de Wellington — descreveu Haig, impressionado, em telegrama enviado à Casa Branca durante o voo de Londres para Buenos Aires.

Haig fez uma escala em Recife para reabastecer seu avião. Encontrou-se com o então governador de Pernambuco, Marco Maciel, a quem contou que aconselharia aos argentinos negociar, pois seriam vencidos por Tatcher com a ajuda dos EUA.

No dia seguinte, reuniu-se com Galtieri. Ouviu do general, que já conversara com o emissário de Fidel, menção às "ofertas de ajuda militar de países não-ocidentais".

A União Soviética redirecionara parte dos seus satélites Cosmos para vigilância no Atlântico Sul, onde também mantinha 25 barcos "pesqueiros". A CIA considerava "inusual" esse nível de cobertura soviética na região, mas arriscou um palpite em telegrama a Haig na manhã daquele 9 de abril: "A atividade militar soviética provavelmente ficará restrita aos dados de localização (da frota britânica)".

A Argentina enfrentava um bloqueio financeiro, comercial e militar europeu. Não tinha dinheiro, apenas US$ 400 milhões em reservas. Também não tinha as armas necessárias. Pagara à França por 14 caças Super Étendard e recebera apenas cinco, com cinco modernos mísseis Exocet. Sem informação de satélites, não poderia localizar navios inimigos — submarinos, nem pensar.

Os britânicos, ao contrário, já "recebiam do Pentágono" os códigos militares argentinos, imagens diárias e detalhadas das bases e do movimento em Port Stanley (ou Puerto Argentino, capital das Malvinas). Mandaram dois submarinos nucleares para a região, inspirando medo no chefe da Armada, almirante Jorge Anaya, o mais radical da Junta Militar. Desde 1978, Anaya carregava um manuscrito com seu próprio plano para invasão das Malvinas. Na hora da batalha, recolheu a frota aos portos do sul. E não a deixou navegar até o fim da guerra.

Quando Haig voltou a Londres, um Boeing 707 da Aerolíneas Argentinas aterrissou no Rio. Vinha de Tel Aviv, Israel, com destino à base de El Palomar, na periferia de Buenos Aires. Foi conduzido para reabastecimento ao lado de aeronaves civis no aeroporto do Galeão, apesar do porão estar lotado com uma carga de bombas e minas terrestres.

"Gradualmente" — registrou o Conselho de Segurança Nacional em memorando ao presidente Figueiredo—-, a Argentina estreitava "seus contatos com o Brasil, em graus diversos de formalidade". E requeria "cooperação em termos mais concretos".

Brasília começou a receber lista de pedidos: créditos e facilidades para operações triangulares de comércio com a Europa; aviões para entrega imediata; bombas incendiárias e munição para fuzis; sistemas de radar e querosene de aviação, entre outras coisas.

O Itamaraty recomendava "tratamento favorável" a quase tudo, enquanto a tensão aumentava no ritmo da marcha da frota britânica pelo Atlântico Sul.”

FONTE: jornal "O Globo” e blog do Noblat  (http://oglobo.globo.com/pais/ilhas-malvinas-brasil-apoiou-trafico-de-armas-para-argentina-4707825#ixzz1sk9qCwS7) e  (http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2012/04/22/malvinas-brasil-apoiou-trafico-de-armas-para-argentina-441485.asp) [Imagens do Google adicionadas por este blog ‘democracia&política’]

COMPLEMENTAÇÃO (da agência espanhola de notícias EFE e portal UOL):


BRASIL APOIOU TRÁFICO DE ARMAS À ARGENTINA NA GUERRA DAS MALVINAS, diz jornal

Fragata inglesa Antelope afundando

“O Governo brasileiro prestou apoio logístico à Argentina para o abastecimento de armas soviéticas na Guerra das Malvinas, em 1982, segundo revelou domingo o jornal "O Globo", que reuniu documentos oficiais secretos.

Apesar de se manter oficialmente neutro no conflito entre Argentina e o Reino Unido, o Brasil cedeu o aeroporto de Recife para as escalas dos aviões que transportavam mísseis e minas desde a Líbia.

A iniciativa começou com o apoio da União Soviética (URSS) e de Cuba ao regime militar argentino na Guerra das Malvinas em meio a Guerra Fria, pelo fato de o Reino Unido ser um de seus principais inimigos ao lado dos Estados Unidos.

Dessa forma, segundo um documento secreto da Marinha brasileira, um avião cubano, com aporte da URSS, seguia para Buenos Aires com armas, quando foi interceptado por autoridades brasileiras. A aeronave voava clandestinamente e os países não mantinham relações diplomáticas.

No entanto, o regime militar permitiu a continuação da viagem após negociação de seis horas com o país vizinho. Daí em diante, os voos da companhia Aerolíneas Argentinas com armas entre Líbia e Buenos Aires, com escala em Recife, chegaram a alcançar frequência de dois por dia.

Boeing 707 da Aerolíneas Argentinas

Nesse período, um documento do Conselho de Segurança Nacional do Brasil registrou que a Argentina estreitou "gradualmente" seus contatos com Brasília, com pedidos de ajuda na compra de aviões, bombas incendiárias, munição para fuzis, sistemas de radar e querosene de aviação. As repostas brasileiras eram quase sempre favoráveis. Mas, quando era negativa, os argentinos recorriam ao apoio do Peru, que teria fornecido caças e mísseis comprados ao mercado negro, segundo "O Globo".

O fornecimento de armas também partia de Israel e seguia duas rotas, uma com escalas nas Ilhas Canárias (Espanha) e Rio de Janeiro, e a outra, através de Caracas e Lima.

O jornal ainda publicou um documento da embaixada britânica criticando o Brasil por ceder seus aeroportos aos voos da Argentina com carregamento de armas. Brasília respondeu a Londres que, em suas inspeções dos voos da Aerolíneas Argentinas, "não encontrou nada de natureza militar".”

FONTE: portal UOL  (http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2012/04/22/brasil-apoiou-trafico-de-armas-a-argentina-na-guerra-das-malvinas-diz-jornal.htm). [Imagens do Google adicionadas por este blog ‘democracia&política’]

3 comentários:

iurikorolev disse...

Muito interessante o artigo.
Em sua opinião, MT, o Brasil apoiou ou não a Argentina ?

Unknown disse...

Iurikorolev,
Na minha opinião, o Brasil reprovou a forma e a oportunidade da tentativa argentina de retomar as Malvinas.
Por outro lado, sendo posição oficial brasileira o reconhecimento do direito da Argentina sobre o arquipélago, desde a 1ª metade do século 19, o Brasil ajudou, dentro dos limites da sua posição de não entrar diretamente no conflito. Da mesma maneira, mas com maior intensidade, agiram os EUA e a França na ajuda aos britânicos contra a Argentina.
Maria Tereza

Unknown disse...

Ano passado no aniversário da Guerra saiu um artigo no jornal dizendo os países que apoiaram a Argentina e os que ficaram neutros ou ao lado dos britânicos na América do Sul.
Estranho nesse artigo dizerem que a Argentina NÃO aceitou ajuda de Cuba ou da URSS... Eu mesmo, como historiador, sabia que o Brasil ajudou eles militarmente, mas não tinha conhecimento desta operação que está descrita ali. Parabéns pela matéria.