quarta-feira, 11 de abril de 2012

AGIR NO CASO DEMÓSTENES ANTES QUE O ABAFEM

Eloi Pietá, secretário-geral nacional do PT
Por Eloi Pietá:

"Os poucos editoriais dos grandes jornais vão na linha de isentar o DEM das ações de sua maior estrela, e até elogiam o partido"

O PT e as forças progressistas precisam agir de imediato, pois está em curso uma tentativa de acabar logo com o caso Demóstenes & Cachoeira. Para muitos, é incômodo discuti-lo. Vai atingir bastante gente por comissão ou omissão. Faz três anos que a Polícia Federal apresentou provas consistentes à Procuradoria-Geral da República, agora reforçadas. Não dá para acreditar, num país em que vaza tudo o que é sigiloso, que era segredo a relação entre Demóstenes (DEM) e o chefe de uma organização criminosa. Além disso, era notória, no meio político de Goiás, a antiga amizade do senador com o bicheiro e as estreitas relações que este mantinha com o suplente de Demóstenes no Senado (e principal financiador legal de sua campanha eleitoral). Desse círculo, participavam deputados, secretários de Estado, prefeitos, delegados da polícia federal e estadual, oficiais da polícia militar, juízes, a chefe de gabinete do governador Marconi Perillo [PSDB], e o próprio governador, de quem adquirira a casa em que morava quando foi preso.

Talvez, a Procuradoria-Geral da República e os governistas inibiram-se com as vacinas que a oposição e a grande mídia vieram, sistematicamente, injetando na sociedade contra a investigação de atividades ilícitas de membros da oposição, taxando-a de “produção de dossiês” e de “perseguição política”.

Logo que veio a público a existência, na mesma pessoa, de "outro Demóstenes", aliado do crime organizado e da corrupção sistemática, o DEM quis logo ver-se livre de seu líder, por longos anos alçado a herói da luta contra a corrupção, cogitado para ser candidato a presidente da República ou vice-presidente, na candidatura do PSDB. Os outros partidos de oposição mostraram-se perplexos e cautelosos, também porque têm políticos seus envolvidos no mesmo esquema.

Os poucos editoriais dos grandes jornais vão na linha de isentar o DEM das ações de sua maior estrela, e até elogiam o partido. O “Estadão” chegou a misturar Demóstenes com Pimentel e Palocci, como se os casos fossem iguais. A “Veja”, cujo diretor da sucursal de Brasília falou por telefone cerca de 200 vezes com Cachoeira, preferiu priorizar na capa uma polêmica de dois mil anos sobre o santo sudário. Um importante jornalista de “O Globo” ensaiou a hipótese de problemas mentais no personagem. A mídia não abriu, neste caso, uma campanha, como fez no governo Dilma com as campanhas pela queda de ministros. Como fez várias no governo Lula. A primeira quando o mesmo Cachoeira filmou um pedido de propina de Waldomiro Diniz, [dois anos] antes de este ir para o governo federal. A mídia até chegou a lançar uma contracampanha, colocando em igual destaque o caso de uma contribuição legal ao PT de Santa Catarina feita por uma empresa fornecedora do Ministério da Pesca.

Cabe a nós, do PT, e a nossos aliados, abrir uma campanha de esclarecimento e dela tirar todas as consequências para a luta contra a corrupção e para a reforma necessária da política brasileira. O que levou o ex-procurador geral de Justiça de Goiás, ex-secretário de Segurança Pública, senador reeleito de brilhante carreira, envolver-se com o crime organizado, e enganar uma nação? Foi o financiamento de suas campanhas, de sua atividade política, de suas ambições políticas? Quem foi beneficiado, quem participou? Quem colaborou no ocultamento de tantas evidências por tanto tempo? E muitas outras perguntas que exigem resposta.

Não será fácil levar essa empreitada adiante porque Demóstenes era um dos principais líderes do projeto conservador do país, e que se opõe ao projeto reformista em curso. Tem muita gente apoiando seu imediato sumiço da cena. A dupla personalidade política agora revelada, e por ele levada ao extremo, lembra a linha da velha escola udenista, que tem muita força ainda no Parlamento, no Judiciário, na mídia. O udenismo, quando fazia campanha contra a corrupção, escondia, sob a máscara dessa campanha, seu objetivo real: assumir o poder para impor uma política elitista no lugar de uma política popular distributiva de direitos, e para substituir o nacionalismo por um alinhamento incondicional aos Estados Unidos. O ‘varre-varre vassourinha’ de Jânio, que veio em sequência na mesma tradição, ao assumir o poder quis dar um golpe na democracia para objetivos similares ao que se assistiu depois de 1964. A ‘caça aos marajás’, que mais tarde elegeu Collor presidente, quando no governo, confiscou as poupanças e quebrou boa parte da indústria com as primeiras medidas neoliberais.

Às forças conservadoras, e à oposição que delas faz parte, não interessa esclarecer este caso. As forças que defendem, com o PT, o mesmo projeto de país mais igualitário, mais democrático, e mais soberano têm que se mobilizar para desvelar a extensão dessa farsa. Temos uma grande oportunidade para tornar mais clara a política brasileira. Não podemos perdê-la.”

FONTE: escrito por Eloi Pietá, titular da Secretaria Geral Nacional do Partido dos Trabalhadores. Publicado no portal do PT  (http://www.pt.org.br/noticias/view/artigo_agir_no_caso_demostenes_antes_que_o_abafem_por_eloi_pieta).

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