domingo, 8 de janeiro de 2012

PIÑERA decidiu: NÃO HOUVE “DITADURA MILITAR” NO CHILE...Depois, diz: "PODE TER HAVIDO"

General Augusto José Ramón PINOCHET Ugarte

Piñera quer apagar dos livros de história o que Pinochet escreveu com sangue

“Ao apagar das luzes de 2011, o governo direitista de Sebastian Piñera introduziu, sorrateiramente, mudança nos livros de história, na parte referente aos obscuros anos de Pinochet. Nos últimos 20 anos, ao menos duas gerações de estudantes chilenos aprenderam que o governo de Pinochet foi uma ditadura, mas, no final do ano passado, o governo de Piñera decidiu mudar esse conceito pelo de “regime militar”.

O artigo é de Christian Palma, direto de Santiago

A convivência ideológica no Chile é como uma delicada taça do melhor cristal: qualquer movimento inesperado e brusco ameaça quebrá-la. Isso ficou manifesto na última quarta-feira (30 dez), quando se conheceu a mudança sorrateira realizada pelo governo de direita de Sebastian Piñera nos livros de história, na parte referente aos obscuros anos do ditador Pinochet. Nos últimos 20 anos, ao menos duas gerações de estudantes chilenos aprenderam que o governo de Pinochet foi uma ditadura, mas, no final do ano passado, o governo de Piñera decidiu mudar esse conceito pelo de “regime militar”.

Embora essa diferença não seja algo determinante no mundo acadêmico especializado em Ciências Políticas e historiografia, para a população chilena a mudança é diferente: representa a violação de um pacto com a memória histórica onde não há espaço para eufemismos. O governo de Pinochet foi uma ditadura com todas as letras, uma das mais sangrentas e repressivas da América Latina, onde a sociedade não pôde decidir sobre o desenvolvimento que queria e teve que viver sob terrorismo de Estado que. inclusive, a impediu de participar nas grandes decisões econômicas, políticas e sociais.

O pior de tudo é que as condições impostas pela ditadura pinochetista ainda perduram no Chile, com elite dominante que se nega a dar maiores espaços de participação aos trabalhadores. Por isso, a mudança arbitrária do governo foi considerada agressão para milhões de chilenos. Não se pode falar de “regime” militar, pois é um significado neutro para tantos anos de opressão e exploração.

Os chilenos tampouco esquecem que a mudança de “ditadura” para “regime” militar foi realizada em silêncio, a portas fechadas (como também ocorria nos tempos de Pinochet), quando o ano de 2011 estava terminando e no contexto das massivas mobilizações estudantis que exigem educação pública de qualidade e gratuita.

O problema veio a público no dia 9 de dezembro, quando o Conselho Nacional de Educação do Chile aprovou a proposta do governo para reduzir as horas de aulas de história e geografia do currículo escolar. No documento a expressão “ditadura militar” é substituída por “regime militar”, o que produziu efeito borboleta que incendiou os ânimos dos chilenos.

Alejandro Goic é um dos conselheiros do Ministério da Educação. “Ninguém se apercebeu da mudança. Nem os especialistas, nem os conselheiros se deram conta quando se discutiu. É um tema sensível. E me parece que é preciso manter o termo ditadura. As ditaduras devem ser chamadas de ditaduras e as democracias de democracias".

Mas a água chegou ao rio, como se diz no Chile. O novo ministro de Educação, Harald Beyer, o terceiro da pasta em seis meses, recebeu fortes críticas, justificando a mudança de conceito e colocando mais gasolina no fogo: “As expressões são 'mais gerais'...a de 'regime' militar que a de 'ditadura'”. Além disso, acrescentou que o debate “não tem a ver com apoiadores nem detratores, tem a ver com 'expressões' que se usam habitualmente nesses currículos em distintas partes do mundo”. A frase foi dita no Palácio de La Moneda, o mesmo lugar onde morreu o ex-presidente Salvador Allende.

A polêmica também chegou ao Congresso chileno onde, como era de se esperar, o rechaço foi contundente por parte de quem sempre chamou os 17 anos de Pinochet de ditadura, enquanto que se registraram matizes entre parlamentares governistas: aqueles que procuram tomar distância de Pinochet rechaçaram a medida, e aqueles que ainda o defendem, aplaudiram.

Cristián Monckeberg, deputado direitista do Partido Renovação Nacional, de onde saiu o presidente Sebastián Piñera, condenou a mudança semântica: “Se antes se chamava 'ditadura' e agora passa a se chamar 'regime' militar, mudança feita por alguns técnicos encerrados em um escritório, isso não vai mudar o curso da história. Eu prefiro que essa escolha de nomes seja feita pelos historiadores, os que escrevem, os que interpretam”, afirmou.

Mas na direita chilena ainda restam políticos que trabalharam para Pinochet, como o deputado Alberto Cardemil, também da Renovação Nacional, que defendeu a mudança de palavra. “É esforço técnico e profissional do Ministério da Educação para dar uma 'versão equilibrada' de nossa história”, disse, acrescentando que “os países precisam, com o passar do tempo, revisar sua história para dar uma 'versão equilibrada'”.

A cereja do bolo foi colocada pelo deputado da União Democrata Independente (partido de ultradireita), Iván Moreira, que sempre foi convidado à casa da família Pinochet. “O fato de se usar o termo 'ditadura' é uma forma de 'estigmatizar' um governo que 'entregou democraticamente o poder' e isso não ocorreu em nenhuma ditadura do mundo, só no Chile, o que fala muito bem do 'espírito democrático' do país”.

No twitter, a mudança de palavra fez explodir a rede social. O grupo de música chilena e reconhecido opositor a Pinochet, Inti Illimani, escreveu: “Voltam os eufemismos perversos da direita...FOI DITADURA!!! E PONTO. Pão, pão e vinho, vinho. PONTO!”.

FONTE: artigo de Christian Palma, direto de Santiago. Transcrito no site “Cata Maior” com tradução de Katarina Peixoto  (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19332).

COMPLEMENTAÇÃO (ATUALIZAÇÃO):

GOVERNO CHILENO NÃO PROIBE A "DITADURA", DIZ PORTA-VOZ

CHILE: GOVERNO VOLTA ATRÁS E MUDARÁ ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL SOBRE O TERMO "DITADURA"

“Na sexta-feira (06/01), o governo chileno teve de se explicar por conta da polêmica criada pela mudança da expressão "ditadura" por "regime militar" nas bases curriculares do primeiro ao sexto ano escolar do país. A mudança serviria para qualificar de 'regime' o do general Augusto Pinochet (1973-1990).

O porta-voz do governo, Andrés Chadwick, informou que o ministério da Educação deverá redigir e enviar uma nova proposta para a questão ao CNED (Conselho Nacional de Educação), órgão autônomo ligado ao Gabinete, que aprova ou não projetos governamentais na área. "A intenção do governo nunca foi produzir controvérsia sobre tema de natureza estritamente política em relação à orientação curricular", explicou Chadwick.

...Já o ministro da Educação, Harald Beyer, procurou explicar, em evento público à imprensa, que a proposta inicial não censurava a palavra nos textos dos livros escolares. Disse, também, que os professores poderiam utilizá-la diante dos alunos. "[Os textos nos livros escolares] podem seguir sendo os mesmos. Os professores podem seguir usando a palavra 'ditadura' ou a que julgarem mais conveniente", afirmou.

"Há leitura errada quanto a isso. São as 'bases curriculares' [que foram alteradas]. Isso não impõe nenhuma visão sobre os textos escolares e nem sobre as aulas que serão desenvolvidas", complementou. As 'bases' são as 'diretrizes de conteúdo' que o Ministério da Educação passa para as escolas em todas as matérias.

Ainda na quarta, quando a notícia saiu na imprensa, Beyer afirmou que reconhecia o governo de Augusto Pinochet como 'regime' ditatorial, mas que a expressão "regime militar", segundo ele, seria geralmente "mais usada". Além disso, justificou a mudança afirmando que, nos outros países, as expressões costumam ser 'mais gerais' com o objetivo de 'incentivar o debate' na própria sala de aula.

Diante da polêmica e das críticas de alguns membros do próprio CNED, que afirmaram não terem se dado conta da mudança de expressões durante a análise da proposta, o governo afirmou que a intenção era 'estimular o debate' no ambiente educacional.

Para minimizar os efeitos negativos do caso, o CNED (informou o governo chileno na tarde de sexta) estava disposto a receber e analisar com celeridade nova proposta do Executivo para reformular a mudança proposta nas 'bases' curriculares.”

FONTE: do site “Opera Mundi”. Transcrito no portal de Luis Nassif  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/governo-chileno-nao-proibe-a-ditadura-diz-porta-voz). [Imagens do google adicionadas por este blog 'democracia&política'].

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