sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Wikileaks: LULA RECUSOU O BRASIL AJUDAR NA INVASÃO DO AFEGANISTÃO


EUA PEDIRAM 'AJUDA' DO BRASIL NA GUERRA DO AFEGANISTÃO, REVELAM DOCUMENTOS ONTEM VAZADOS PELO WIKILEAKS

O governo dos Estados Unidos procurou o serviço diplomático brasileiro para pedir formalmente que país contribuísse na guerra dos EUA no Afeganistão e o Brasil se negou a participar, nem mesmo com dinheiro, segundo relevam documentos confidenciais divulgados ontem (13) pelo Wikileaks.

Em março de 2008, um representante americano relata que o Itamaraty relutava em dar apoio militar à missão, o que iria na contramão da tradição brasileira.

De acordo com uma comunicação diplomática do final de 2008, ainda sob governo de George W. Bush, o então embaixador americano Clifford Sobel relata que a solicitação teria sido encaminhada a funcionários brasileiros em setembro, destacando que o Brasil “tem procurado por projetos relacionados a desenvolvimento, em detrimento a apoio para o setor militar”.

Até o momento, o governo brasileiro não encontrou oportunidades factíveis de apoio ao Afeganistão”, escreve Sobel.

O histórico brasileiro sugere que seria uma ruptura entre os precedentes o Brasil apoiar uma força militar estrangeira fora do mecanismo das Nações Unidas, com o qual o governo prefere trabalhar”, acrescenta.

Uma [das] demandas "por cinco milhões de dólares dentro de cinco anos é muito maior do que muitos outros pedidos que fizemos e que ficaram sem resposta. Os recursos do Brasil para assistência em geral são extremamente limitados e o governo tende a preferir assistência técnica para projetos de desenvolvimento social”, analisa o embaixador dos EUA.

Meses depois, já sob o governo de Barack Obama, Sobel volta ao tema ao reportar um contato com o embaixador Roberto Jaguaribe.

Os Estados Unidos lideram uma guerra no Afeganistão contra extremistas” [sic] desde o final de 2001, na qual já morreram mais de dois mil soldados estrangeiros e que consome bilhões de dólares anualmente. [ver a seguir a postagem deste blog intitulada “A TAL GUERRA DO AFEGANISTÃO QUE OS EUA QUERIAM O BRASIL ENVOLVIDO”]

Especialistas divergem sobre a efetividade desta campanha militar, mas os EUA já admitem permanecer no país até mesmo depois de 2014.

Há três principais obstáculos a superar com relação aos pedidos de assistência: a) o orçamento brasileiro, b) receptividade política e c) dificuldade do Brasil em “comprar uma coisa que ele não formulou”.

Observando que Afeganistão é um país ‘remoto e distante’ para o Brasil, Jaguaribe disse que o Brasil acompanha o desenvolvimento da situação no Afeganistão, mas não é um ‘ator relevante’, embora Afeganistão esteja para abrir uma embaixada em Brasília e o Brasil consideraria abrir uma em Cabul”.

De acordo com o relato de Sobel, o embaixador brasileiro chegou a fazer comentários sobre as ações americanas, destacando a importância de “incorporar os vizinhos do Afeganistão em uma nova estratégia, sobretudo Paquistão e Irã”.

Irã poderia se revelar um importantíssimo ator no processo, ele acrescentou”, escreve Sobel sobre Jaguaribe.

Jaguaribe também teria recomendado que “ações militares no Paquistão e Afeganistão dificultam, ao invés de fortalecer força política interna”, admitindo contudo que os EUA deveriam ter mais informações da situação local do que ele próprio.

Segurança para quem? ele perguntou, sugerindo que a segurança para o governo e para a capital seriam condições insuficientes para construir o amplo apoio que o sucesso no Afeganistão requer”, continua Sobel.

O embaixador conclui dizendo que a missão diplomática dos EUA no Brasil não esperava que o país ainda viesse a dar nova resposta para o caso.”

FONTE: portal UOL (Notícias) (http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/internacional/2011/01/13/eua-pediram-ajuda-do-brasil-na-guerra-do-afeganistao-revelam-documentos-vazados-pelo-wikileaks.jhtm) [título, imagem, trechos entre colchetes e texto a seguir adicionados por este blog].

A TAL GUERRA DO AFEGANISTÃO QUE OS EUA QUERIAM O BRASIL ENVOLVIDO


Este blog democracia&política, em 22 de março de 2008, três meses após ser inaugurado, publicou o seguinte texto, por nós elaborado, sobre a guerra dos EUA no Afeganistão. Essa guerra é muito estranha. O governo Lula fez muito bem em recusar o pedido dos EUA para o Brasil se engajar nela.

Republico a postagem:

FATOS MUITO ESTRANHOS NA GUERRA DOS EUA CONTRA O AFEGANISTÃO

A GUERRA DOS EUA CONTRA O AFEGANISTÃO


Já era conjecturado pela imprensa, nos EUA e no exterior, muito antes do ataque terrorista de 11/09/2001 às torres gêmeas de Nova Iorque, que o Afeganistão seria invadido por tropas norte-americanas em futuro próximo.

O PETRÓLEO

Um dos motivos desse ataque prenunciado foi o fato de a região da Ásia Central abrangida pelos países Azerbaijão, Cazaquistão, Usbequistão, Turcomenistão, Tadjiquistão e Quirguistão ter sido identificada como possuindo reservas de petróleo e gás maiores que as do Golfo Pérsico [assim como o vizinho Irã, cujo ataque já é também prenunciado].


Os EUA já haviam ajudado, por ter interesse na área, o regime Taleban e Osama Bin-Laden, para combaterem a União Soviética no Afeganistão, país este vizinho àquela rica região petrolífera e caminho natural para o melhor escoamento por oleodutos da futura produção petrolífera.

O Afeganistão é importantíssimo como solução geográfica mais barata para o transporte daquelas riquezas. Será muito menos custoso passar oleodutos e gasodutos por seu território, até o porto na área marítima do Paquistão junto ao Oriente Médio, do que a solução desejada pelos russos, de estendê-los até o Mar Negro.

Segundo a imprensa, vários grupos dos EUA (Chevron, Conoco, Texaco, Mobil Oil e Unocal) já estavam na década de noventa com negociações e investimentos adiantados no Afeganistão para aquela exploração.

O regime afegão Taleban, todavia, veio a se negar a autorizar a passagem pelo Afeganistão do oleoduto e do gasoduto, os quais já estavam iniciados pela empresa norte-americana Unocal. Essa negação causou a interrupção da obra em 1998. Naquele ano, em 20/08/1998, de surpresa, à noite, sem qualquer declaração de guerra, os EUA atacaram com mísseis de cruzeiro e aviões uma região daquele país com o ridículo pretexto de “suspeita de abrigar possíveis terroristas”.

Desde então, volta e meia surgiam artigos em jornais e revistas, em várias partes do mundo, abordando novo e iminente grande ataque militar dos EUA ao Afeganistão. Talvez, o posterior ato terrorista de 11/09/2001 em Nova Iorque tenha sido o valioso e oportuno pretexto para aquela esperada e planejada ação militar norte-americana no Afeganistão, logo a seguir desencadeada, sem autorização da ONU.

COISAS MUITO ESTRANHAS - O NARCOTRÁFICO

Nem tudo, no entanto, era assim facilmente previsível ou imaginável. Sempre achei que havia no ar coisas muito estranhas, incoerentes, muito além da rotineira ganância pelo petróleo alheio que caracteriza a política externa norte-americana. Muitas dessas aparente incoerências até hoje perduram ou se repetem. E ainda não as compreendo.

Por exemplo: nos anos 90, o regime Taleban baniu do Afeganistão o cultivo do ópio, do qual é extraída a heroína. A produção caiu a zero em julho de 2001, dois meses antes do atentado às torres gêmeas de Nova Iorque. O comércio mundial daquele produto, que somente nos EUA move mais de dois bilhões de dólares por ano, ficou arrasado, com preços disparando, inviabilizando a sua comercialização e causando o desespero dos seus comerciantes, dos políticos por eles ajudados e dos viciados consumidores norte-americanos. [Em 2008, o comércio de narcotráfico (heroína e outros) movimentou 1,75 trilhões de euros no mundo].

                              Plantação de papoulas

Em poucos meses de invasão norte-americana “na caça ao terrorista Bin Laden” [sic], os EUA devastaram com poder impressionante o Afeganistão, com milhões de toneladas de bombas e mísseis moderníssimos. Até o seu subsolo, suas cavernas, suas montanhas foram explodidos por novas e poderosas bombas que tudo esfarinhavam como um grande terremoto.

Aquele país atacado, cujos progresso e infraestrutura o assemelhavam ao interior do Piauí, e o seu centro comercial parecia feira livre da periferia de Caruaru-PE, foi completamente destroçado, com dezenas de milhares de civis afegãos mortos. Até hoje, a matança continua. O país está totalmente ocupado pelas numerosas, crescentes, modernas e poderosíssimas Forças Armadas dos EUA e de seus aliados.

Contudo, o surpreendente e incompreensível para este blog é o Afeganistão -- mesmo policiado palmo a palmo por forças que se intitulam “com o nobre direito de combater o terror e o narcotráfico no mundo” [sic]--, ter rapidamente, após a invasão norte-americana, recuperado e gigantescamente aumentado a lavoura, a produção e a exportação do ópio, hoje [2008] já respondendo por quase 100% da produção mundial. Assim, os preços, antes elevados por conta da eliminação das lavouras pelos talebans, já baixaram e os suprimentos de heroína estão normalizados nos EUA e nos demais grandes mercados consumidores...

Perplexidade. Nada entendemos.

Apenas para exemplificar esse incongruente quadro, relembro trechos de um artigo da agência britânica de notícias BBC, de 03/09/2006, que tratou desse surpreendente e exponencial crescimento da produção de papoula, ópio e heroína após a invasão norte-americana. Transcrevo:

CULTIVO DE ÓPIO NO AFEGANISTÃO AUMENTA 59% NO ANO” (de 2006)

BBC

O cultivo de papoulas no Afeganistão - matéria-prima para a produção de ópio - deverá aumentar em 59% neste ano [2006], representando 92% da produção mundial da droga, de acordo com as Nações Unidas.”

(...) “O narcotráfico no Afeganistão, estimado em US$ 2,7 bilhões, responde por cerca de um terço da economia do país.” [atualização deste blog: em 2008, 57% do PIB afegão já provinha da heroína (segundo o portal UOL Mídia Gobal, em 02/04/2008)].

GOVERNO DÉBIL

Das 34 províncias do país, em apenas seis não há produção de ópio, afirma a agência BBC.

O aumento do cultivo de papoulas ocorreu ainda no nordeste do país, o que é atribuído à presença de comandantes de milícias e a um governo débil, disse o relatório da ONU.

"A opinião pública está cada vez mais frustrada com o fato de que o cultivo de ópio no Afeganistão está fora de controle".

Isso foi em 2006. Em 2007 foi pior. Vejamos outro artigo, da Folha Online, em 05/03/2007:

ONU RELATA AUMENTO DO TRÁFICO DE ÓPIO NO AFEGANISTÃO” (em 2007)

O cultivo de papoula --matéria prima do ópio-- no Afeganistão poderá se expandir em 2007 após uma safra recorde em 2006, afirmou nesta sexta-feira a agência da ONU que investiga drogas. O relatório da ONU destaca o fracasso de iniciativa internacional que luta contra o tráfico de narcóticos crescente no país.


A Agência para Drogas e Crimes da ONU (UNDOC) prevê aumento da papoula em um círculo de Províncias afegãs, inclusive Helmand, no sul, onde há a mais extensa área de cultivo no país.”

(...) "A pesquisa deste inverno sugere que o cultivo de ópio no Afeganistão em 2007 poderá superar a colheita recorde de 165 mil hectares em 2006", afirmou o diretor executivo da UNODC”.

CULTIVO

(...) "Segundo a ONU, o cultivo de papoula ocorre em 100% dos vilarejos visitados na Província de Helmand e em 93% das vilas da Província vizinha de Candahar (ex-bastião do Taleban).”

POLÍTICA

(...) “Para os críticos [norte-americanos], há elementos corruptos no governo do Afeganistão e nas forças de segurança locais envolvidos no tráfico de ópio e eles não vão permitir a organização de uma operação séria para acabar com o cultivo da droga.


O relatório da ONU também apontou para uma "nova e perturbadora tendência" no cultivo de drogas afegão --o crescimento dos campos de cannabis (usada na fabricação da maconha).

Para este blog, tudo isso é muito estranho... Ainda bem que o Presidente Lula não meteu o Brasil nesse atoleiro ‘narcopetromilitar’ como os EUA queriam, segundo agora revelado pelo Wikileaks.

FONTE: este blog democracia&politica

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