terça-feira, 26 de maio de 2009

P36-SDB: CPI NÃO É BOA PLATAFORMA DE CAMPANHA

Li hoje no site “Vermelho” o seguinte texto de Wedencley Alves, postado no Portal Luis Nassif:

“Eu já afirmei no post anterior que se o pré-candidato José Serra continuar compartilhando da lógica da imprensa que o apóia - e dos xiitas do seu partido - vai acabar colhendo muitos problemas. Esta CPI da Petrobras, iniciativa do PSDB a partir de denúncias idealizadas pelo O Globo, vai trazer à memória uma série de fatos que não orgulham em nada os tucanos. Faz a festa de escandalizações da imprensa, mas soa publicamente como hipocrisia ou ato eleitoreiro. Afinal, como o PSDB pode ensinar alguém a cuidar da Petrobras?

Vamos dar uma olhada na reportagem da revista Época de dezembro de 2001. Mas antes, é bom relembrar o que foi a tragédia da P-36

REVISTA ÉPOCA, EDIÇÃO 185, 03/12/2001

TRAGÉDIA

O RISCO PETROBRAS


Recordista de mortes, a estatal é denunciada na Marinha pelo naufrágio da P-36

Desde março, quando a plataforma P-36 foi a pique no litoral do Rio de Janeiro, provocando a morte de 11 petroleiros e o naufrágio de um investimento de US$ 450 milhões, a direção da Petrobras explica a tragédia pela falta de sorte. “Foi uma fatalidade”, disse na ocasião o presidente da Petrobras, Henri Philippe Reichstul. Na quinta-feira, ao apresentar o resultado de cinco meses de trabalho, três exames de perícia e 30 depoimentos, a Procuradoria Especial da Marinha, órgão encarregado de apurar as causas e responsabilidades de desastres marítimos, apontou um dedo de acusação contra a empresa.

Em sua denúncia, a procuradora da Marinha Tereza Cristina Bevilacqua faz acusações graves. Diz que a Petrobras privilegia o lucro em sacrifício da qualidade das operações.

Afirma que a empresa colocou a P-36 em operação antes que a plataforma estivesse pronta. E que a companhia não se deu ao trabalho de treinar seus funcionários para uma emergência. Conforme a procuradora, a P-36 entrou em operação navegando num oceano de irregularidades. Na denúncia, Tereza Cristina Bevilacqua chama a atenção para o fato de um tanque de drenagem de emergência ter ficado de 10 de fevereiro a 15 de março quebrado, sem substituição, fato que, embora não esteja relacionado ao acidente, revela o descuido nas operações. Num processo que impressiona pela contundência, a Procuradoria da Marinha aponta falhas no projeto da P-36, indica erros na operação da plataforma e conclui pela responsabilidade da direção da Petrobras. Acusa a diretoria da estatal, duas empresas certificadoras (responsáveis pela permissão de funcionamento da P-36) e cinco funcionários da própria plataforma pela tragédia. Feita a denúncia, cabe aos seis juízes do Tribunal se pronunciarem, o que deve ocorrer em fevereiro. Conforme Época apurou na sexta-feira, o humor dominante entre os juízes é de indiciar o próprio Henri Reichstul.

NAUFRÁGIO DA P-36 (RJ)

MARÇO DE 2001

O QUE ACONTECEU


Um tanque explodiu e vazou gás durante a manutenção. A plataforma afundou matando 11 petroleiros

O QUE DEU ERRADO

A manutenção foi feita com a P-36 funcionando, o que é irregular.
Na operação de salvamento da plataforma, um tanque ficou aberto e encheu-se de água

COMO FICOU

A Procuradoria da Marinha denunciou a direção da Petrobras. A Câmara Federal vai responsabilizar a empresa pelo acidente

Isoladamente, a denúncia da Procuradoria Especial da Marinha já seria um episódio constrangedor. Há mais. Nas próximas semanas, uma Comissão Especial da Câmara Federal também deverá responsabilizar os executivos da empresa pelo naufrágio. No documento em preparação na Câmara, o deputado Luciano Pizzatto (PFL-PR) nota erros grotescos. Lembra, por exemplo, que a Marinha e a Agência Nacional do Petróleo (ANP) autorizaram o funcionamento da P-36 com base em documentos, sem realizar inspeções no local. Nota também que os computadores da plataforma funcionavam sem backup e as câmeras do sistema de vídeo da P-36 não tinham fita para registrar possíveis falhas e mostrar o que ocorria na plataforma. No mês passado, a CPI da Assembléia Legislativa do Rio concluiu que erros da direção da Petrobras foram decisivos para o naufrágio. A sucessão de falhas em uma plataforma que produzia 6% do petróleo brasileiro é tão gritante que a Associação dos Engenheiros da Petrobras insiste que se investigue a tese de sabotagem. Reichstul estava na semana passada internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, recuperando-se de cirurgia. Sua assessoria informou que a empresa não vai se pronunciar sobre a ação na Justiça Militar.

A morte dos petroleiros na P-36 foi o pior momento de uma longa série de desastres de uma empresa que tem quebrado recordes de vítimas, a grande maioria trabalhadores de empresas terceirizadas. No ano passado, foram 17 mortes. Para efeito de comparação: uma pesquisa da Associação Internacional de Produtores de Óleo e Gás (que engloba 27 empresas, como Texaco, Esso e BP) mostrou que em 2000 apenas na Nigéria morreram mais pessoas que nas operações da Petrobras. Com uma diferença. Na Nigéria, operam oito empresas, entre elas a Shell, enquanto todas as mortes brasileiras estão relacionadas à Petrobras.

BAÍA DE GUANABARA (RJ)

JANEIRO DE 2000

O QUE ACONTECEU


O rompimento de um duto derramou 1,3 milhão de litros de óleo e destruiu a fauna dos mangues

O QUE DEU ERRADO

O vazamento só foi descoberto depois de quatro horas. A empresa não instalou as bóias de contenção que teriam evitado a propagação da mancha

COMO FICOU

A Petrobras pagou R$ 40 milhões de multa e sustenta projeto de recuperação na área

Nos últimos quatro anos, 70% das mortes nas atividades da Petrobras foram de terceirizados. As vítimas são técnicos queimados em explosões de tubos de gás, vigilantes afogados ao cair de navios e operadores esmagados por guindastes. Neste ano, morreram 26 petroleiros. Poucos casos são tão emblemáticos do risco nas operações da Petrobras como o envenenamento em janeiro de dois encanadores da empresa Ultratec, terceirizada da plataforma P-37, na Bacia de Campos, no Rio. Os dois operários consertavam a casa de bombas da plataforma quando sentiram cheiro de ovo podre. “Qualquer funcionário da Petrobras sabe que esse odor é o de gás sulfídrico, um composto químico fatal. Na empresa, os funcionários são treinados a correr na hora em que sentirem o cheiro e só ficar no local protegidos por máscara”, conta Fernando Carvalho, coordenador do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense. “Só que eles nunca passaram por um treinamento de segurança, inalaram o gás e morreram.” A Petrobras afirma que o número de mortes em suas atividades está dentro dos padrões internacionais. “A empresa está executando o maior plano mundial de investimentos em segurança”, explica o superintendente de Segurança, Meio Ambiente e Saúde da estatal, Irani Varella. “Mas os resultados não são de curto prazo”.”

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