quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

CÚPULA SEM TUTELA

O jornal Correio Braziliense publicou ontem o seguinte texto de Viviane Vaz:

AMÉRICA LATINA

DOS 33 GOVERNANTES DA REGIÃO, 29 SE REÚNEM NA BAHIA, PELA PRIMEIRA VEZ SEM A PRESENÇA DE EUROPEUS OU AMERICANOS. RAÚL CASTRO CHAMA OBAMA PARA DIÁLOGO E DIZ QUE ISOLAMENTO DE CUBA ESTÁ ACABANDO


Pela primeira vez na história, os presidentes de 29 dos 33 países latino-americanos se reúnem hoje e amanhã na Costa do Sauípe, na Bahia, sem a interferência direta de representantes ibéricos ou anglo-saxões. A inédita Cúpula da América Latina e do Caribe sobre Integração e Desenvolvimento (Calc) não contará com a presença dos Estados Unidos, Canadá, Espanha, Portugal e outros europeus que tiveram presença colonial na região.

“É bom que eles vejam que temos também mecanismos de integração e desenvolvimento que não dependem de tutela externa”, disse o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim. “É inacreditável que, em 200 anos de independência da América Latina, quando haja uma reunião internacional tenha de estar ou Estados Unidos, ou União Européia, ou o rei da Espanha ou o presidente de Portugal”, prosseguiu Amorim. “Não é possível que isso seja necessário. É bom nos reunirmos com eles, é ótimo. Mas é muito bom também que nós sejamos capazes de tratar dos nossos problemas — nós, que somos países em desenvolvimento dessa parte do mundo. Eu acho que essa é uma coisa histórica.”

Disposto a fazer história, o novo presidente de Cuba, Raúl Castro, desembarcou na tarde de ontem em Salvador saboreando de antemão a entrada de seu país no Grupo do Rio, mais um passo na reintegração ao sistema interamericano, do qual foi afastado pelos EUA. “Está cada vez mais difícil manter Cuba isolada, e a cúpula poderá aprovar uma resolução contra o embargo”, afirmou, depois de trocar beijos com uma baiana a caráter no Aeroporto Luis Eduardo Magalhães. “Este é de Fidel e esse, de Raúl”, brincou. O governante, que sucedeu em fevereiro ao irmão Fidel Castro, foi além e se dirigiu ao presidente eleito dos EUA, que tomará posse em janeiro: “Se o senhor Obama quiser discutir, discutimos. Se não quiser, não se discute”, disse Raúl, que vem de uma visita de dois dias à Venezuela, escala inicial de sua primeira viagem oficial ao exterior.

“Está começando uma nova era histórica, sem dúvida. É um sinal geopolítico importante”, afirmara em Caracas o presidente venezuelano, Hugo Chávez, ao se despedir de Raúl, antes de seguir ele próprio para o Brasil. A reunião da Calc tem como objetivo principal discutir a integração regional e energética da região, assim como saídas conjuntas para a crise financeira mundial. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como anfitrião e líder da oitava economia do mundo, terá de fazer suas propostas com muito tato, uma vez que lidará com a temporada de ciúmes dos vizinhos Argentina, Paraguai, Equador e Bolívia — todos questionam a orientação que o Brasil quer imprimir à economia da região.

Entre as ausências mais importantes estão os aliados que restaram aos EUA na América do Sul: o colombiano Álvaro Uribe e o peruano Alan García. Uribe cancelou a visita por causa das fortes chuvas em seu país, mas o vice-presidente Francisco Santos vai substituí-lo e terá uma reunião à parte com Raúl Castro. O presidente cubano é o mais cobiçado para os encontros bilaterais e tem encontro marcso também com o presidente mexicano, Felipe Calderón. Na quinta, ele virá a Brasília para uma visita oficial a Lula.”

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