quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A CRISE E A POPULARIDADE DE LULA

O blog “Cidadania.com”, de Eduardo Guimarães, ontem publicou:

“Talvez vocês não tenham notado, mas desde a explosão – ou seria da conscientização mundial? – da crise econômica internacional, enfim, desde a hecatombe ocorrida em 15 de setembro último com a quebra do Lehman Brothers, a venda do Merrill Lynch e a tentativa da seguradora AIG de conseguir empréstimo do governo americano – e isso já tem mais de setenta (!) dias – que não se divulga novos dados sobre a popularidade de Lula.

Desde então, num gradiente impressionante de disseminação de pânico nos agentes econômicos, vemos a mídia alardear desgraças múltiplas que se abateriam sobre o país por conta da crise econômica internacional.

O alarde sobre contaminação do Brasil pela crise internacional ganhou impulso com declaração pública de Lula de que os efeitos dos problemas nos EUA, na Europa e na Ásia nos atingiriam com a intensidade de uma “marolinha”. A mídia viu aí oportunidade para Lula faturar politicamente com as desgraças no Norte e no Oriente do mundo e decidiu fazer do limão uma limonada “provando” que o presidente teria sido irresponsável.

Além disso, o recrudescimento da crise internacional era aguardado com ansiedade pela direita brasileira, por seus jornais, revistas e cadeias de televisão e rádio, pois a resistência da popularidade lulista era debitada por eles a uma inexistente “bonança mundial” que só continuava existindo mesmo nos seus discursos, que por sua vez tinham como fim “explicar” o espantoso crescimento do Brasil – por “explicar”, vale dizer, entenda-se minimizar.

O diabo era que o país não se entregava à crise facilmente. Quase um mês depois do fatídico 15 de setembro, paulistanos e cariocas lotaram ruas de comércio varejista às centenas de milhares para comprarem presentes de “Dia das Crianças” para os seus filhos.

Contudo, nos setores mais elitizados e, portanto, mais sujeitos aos efeitos da grande imprensa oposicionista, as previsões de desgraças paralisaram esse consumidor de alto poder aquisitivo, que parou de comprar automóveis e imóveis.

O vislumbre de lucro político com a crise encantou até mesmo cidadãos comuns que rejeitam o governo Lula e seus inegáveis avanços com um fundamentalismo quase patológico. Conservadores comuns e aqueles ligados à política e à mídia começaram a “comemorar” a crise e a possibilidade de a economia reduzir a euforia da população com o forte aumento do emprego, da renda e com a queda da pobreza e da miséria, fatores que estariam gerando a enorme – e até então crescente – popularidade de Lula.

Fica difícil dizer se os problemas surgidos no Brasil até agora foram apenas uma “marolinha”, como disse o presidente, ou se há, de fato, algo preocupante acontecendo na economia do país. Os dados econômicos todos, porém, autorizam afirmar que, até agora, não houve mais do que uma mera “marolinha” em nossa economia. A mídia e a oposição tucano-pefelista, porém, afirmam que os dados que estão aparecendo são os do “retrovisor”, ou seja, seriam dados sobre o passado.

Não é bem assim. Dados sobre a expansão do crédito, sobre o nível de emprego, sobre a produção industrial, sobre o investimento estrangeiro e muitos outros já são negativos na maior parte do mundo. No mês de outubro, por exemplo, enquanto nos EUA, na Europa e na Ásia já se constata recessão – e constatar recessão não acontece de um dia para o outro –, no Brasil a economia continuou batendo recordes.

De qualquer forma, com ou sem crise já começa a ficar meio estranho que não surja nenhuma pesquisa sobre a popularidade de Lula. É bobagem afirmar, aliás, que esses dados não estão sendo pesquisados. O próprio governo é senhor dos dados sobre a própria popularidade tanto quanto seus adversários, que por sua vez têm nas mãos boa parte dos grandes institutos de pesquisa.

A não-divulgação desses dados pode – apenas pode, que fique registrado – dizer respeito a uma eventual resistência da popularidade do presidente da República, até porque não haveria tempo para os efeitos localizados gerados à economia por conta da crise terem promovido pioras significativas na qualidade de vida das pessoas, ainda que seja inegável o sucesso da mídia nessa sua nova disseminação de pânico.

Porém, os números da economia fazem crer que mesmo o medo que se instalou no país pode não ter abalado a popularidade de Lula como seus adversários acreditam que ocorrerá ou até que já ocorreu. Resta saber, assim, se a maioria que apoiou a reeleição de Lula e seu projeto para o país apesar de todo bombardeio da mídia em 2004, 2005 e 2006, virar-lhe-á as costas agora por problemas ainda tímidos na economia num contexto em que todos vêem o mundo desabar lá fora.

Em minha opinião, há elementos suficientes para fundamentar a teoria de que a mídia pode quebrar a cara de uma vez por todas com sua aposta nesta crise, pois se suas previsões catastróficas não se materializarem de forma a causar estragos consideráveis nas vidas das pessoas ela terá chancelado, sem querer, a afirmação de que Lula é, sim, um bom governante, pois a mesma mídia tem cansado de alardear que “agora, sim, veremos do que ele é capaz, pois, até então, vinha voando em céu de brigadeiro”.

Como eu disse acima, já é preciso ficar de olho no tempo que está decorrendo desde a última sondagem sobre a popularidade do presidente da República. Esses números certamente já foram apurados várias vezes nos últimos dois meses. A decisão de divulgá-los costuma obedecer aos interesses políticos de José Serra e de seu grupo político. Diante disso, vejo indícios de que o efeito desmoralizador pretendido pela mídia ainda não foi atingido.

Nesse aspecto, vale reproduzir trecho final de comentário feito hoje pelo colunista do jornal Folha de São Paulo Fernando Rodrigues:

(...) No Planalto, mesmo vendo a degradação do cenário [econômico], Lula parece comandar um bloco do auto-engano. Repete um mantra sobre a solidez do país. Fará uma propaganda na TV a respeito. Ou o petista enxerga o que ninguém vê ou prepara o país para uma das maiores decepções recentes ao longo do ano de 2009. A ver.

Vejam que interessante: a mídia, apesar dos sucessos inegáveis deste governo, continua a subestimá-lo. Lula seria um irresponsável que fica vendendo seu auto-engano. Tratar-se-ia de um alienado que não enxerga um palmo diante do nariz. A burrice é tanta que ainda não aprenderam a não subestimar alguém que vem conduzindo o país de uma forma que o mundo inteiro – e inclusive a imprensa internacional – vem reconhecendo.”

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