terça-feira, 29 de abril de 2008

POR QUE O ENVIO DE LUCROS PARA O EXTERIOR BATE RECORDES?

Os jornais de hoje estão transmitindo essa notícia deixando no leitor a impressão de que ela é conseqüência da política econômica do governo Lula.

Precisamos relembrar quando o problema foi criado no Brasil.

Em um certo momento da nossa história, o parque industrial brasileiro foi passado quase integralmente para a propriedade estrangeira. Ao final do governo PSDB/DEM-PFL/FHC, cerca de 70% das empresas “brasileiras” exportadoras já pertencia a estrangeiros.

Eles, logicamente, passaram a remeter para suas matrizes os lucros aqui obtidos. Hoje, com a economia brasileira crescendo fortemente, a remessa de lucros para o exterior também cresce.

Este blog já abordou esse problema no artigo de 26 de janeiro último de título “A transferência para estrangeiros da propriedade de empresas estratégicas”. Transcrevo a primeira parte daquela postagem:

“O câncer de entregar (para estados ou empresas estrangeiras) as empresas brasileiras estratégicas não foi extirpado.

Essa doença foi dolosamente inoculada no Brasil e em outros países especialmente na década de 90, disfarçada com eufemismos: "modernidade", nova ordem mundial", "globalização", “Consenso de Washington” etc.

Aqui diziam que "deveríamos deixar de se proteger, de querer se industrializar e de se desenvolver tecnologicamente. Deveríamos passar a lutar no mercado liberalizado em igualdade de condições com as potências econômicas mundiais. Porque, assim, encontraríamos os nichos de oportunidade e o progresso que nos fosse possível na nova ordem internacional. A mágica do mercado solucionaria tudo sozinha, sem intervenção dos Estados".

Haveria no Brasil, em conseqüência, segundo eles, "o violento e benéfico choque de competição com produtos importados dos países já desenvolvidos, mais competitivos".

Omitiam que as grandes potências hoje são competitivas, desenvolvidas e ricas porque melhor protegeram suas indústrias e produtos; e ainda os amparam fortemente. A nossa imprensa nos diz o contrário, mas o Estado naqueles países é forte e intervencionista.

A "modernidade" nos foi imposta, inclusive por meio dos diversos acordos com o FMI.

Os poucos países que não obedeceram plenamente aquelas diretrizes tornaram-se os bem-sucedidos, especialmente a China, Índia, Coréia do Sul.

Por absurdo, os mesmos brasileiros que contribuíram na década de 90 para o nosso distanciamento dessas novas potências emergentes, são os mesmos que hoje debocham e cobram do governo atual não termos os mesmos sucessos da China...

O pior é que, apesar da quase falência que causou em muitos países (como Argentina e Brasil), a moléstia ainda persiste no Brasil, nas mentes e corações de muitos brasileiros, especialmente nos que se intitulam "elite conservadora" e na grande mídia que a apóia radicalmente.

Em resumo, no nosso caso, qual a maldade que havia por trás daquelas imposições dos EUA, do FMI, do G-7?

Ela nunca era explicitada. Contudo, era evidente que, entre os principais motivos, estava o seguinte: não queriam no Brasil o Estado empresário, ou forte e regulador que viesse a nos colocar em condições de competir com os ricos.

Por quê? Porque o Estado forte em país pobre é o único com alguma dimensão econômica para fazer empresas brasileiras ao menos fortes o suficiente para competirem com as grandes empresas dos EUA e do Primeiro Mundo no mercado nacional e em nossos setores estratégicos ou altamente lucrativos.

Assim, na década de 90, veio a ocorrer no Brasil o ápice da doença. A prioridade era vender, desestatizar e desnacionalizar. Prioritariamente, desnacionalizar as empresas estrategicamente mais importantes para o desenvolvimento nacional e as mais lucrativas, especialmente as que vendem em moeda forte (ex.: EMBRAER, Vale do Rio Doce, EMBRATEL).

A muito estimulada e "arrojada" desnacionalização do parque industrial brasileiro e do setor público de serviços foi financiada com dinheiro nacional, em sua maior parte. Foram utilizados recursos públicos como os do BNDES, a serem pagos pelos compradores estrangeiros com juros baixos, suavemente, com fracas ou inócuas exigências de garantias.

O pior de tudo até hoje é omitido. Muitas empresas não foram "privatizadas" como dizem. Elas foram REESTATIZADAS para empresas estatais estrangeiras!

Os brasileiros não sabem, mas muitas das nossas empresas, a EMBRAER, por exemplo, no governo FHC praticamente passaram para o controle de Estado estrangeiro.

Hoje, a propriedade da EMBRAER e de muitas outras, até mesmo a PETROBRAS, a VALE, está em mãos estrangeiras em boa parte!”

Assim, como acima exposto no citado artigo deste blog, o parque industrial e exportador brasileiro passou para mãos estrangeiras. Essas mãos, naturalmente, passaram a remeter seus lucros para seus países.

Como corrigir isso? É muito difícil em prazo curto. O mal já foi inoculado no Brasil como um câncer. As curas são longas e difíceis. Qualquer arremedo de “nacionalização” é intensamente criticado no exterior e no país pela imprensa defensora de grandes interesses econômicos externos, como ocorre na Venezuela e na Bolívia.

O Brasil terá que encontrar suas próprias soluções mais palatáveis para o mundo capitalista.

Vejamos a notícia publicada hoje pelo jornal Folha de São Paulo, em texto de Ney Hayashi da Cruz, da sucursal de Brasília:

ENVIO DE LUCROS PARA O EXTERIOR ATINGE RECORDE

“Com aumento de 39% nas remessas e queda do saldo comercial, contas externas têm pior resultado desde outubro de 98”.

“Déficit nas transações correntes soma US$ 10,8 bi até março, próximo do saldo negativo de US$ 12 bi que o BC prevê para o ano todo”.

“As remessas de lucros para o exterior voltaram a bater recorde no mês passado, chegando a US$ 4,345 bilhões e superando em 39% a marca anterior, que havia sido alcançada em dezembro do ano passado. Isso fez com que as contas externas do Brasil atingissem seu pior resultado em quase dez anos, segundo o Banco Central.

(...) O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que a volta do déficit nas contas externas já era esperada. "Os números mostram uma certa deterioração no resultado de transações correntes neste início de ano. É um quadro de menor saldo comercial e remessas de lucros bem mais elevadas", afirma.

Para Lopes, o crescimento no envio de dividendos ao exterior não preocupa, pois indica que as empresas que atuam no Brasil estão tendo ganhos também elevados. "Se não estivessem tendo lucro, não iriam remeter [para fora do país]."

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