terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

TV PÚBLICA

A seguinte matéria que li hoje na Folha Online redespertou-me para esse importante assunto. Como sempre, a mensagem não é aquela lida na mídia, mas a das suas entrelinhas. Reproduzo trechos:

"OPOSIÇÃO QUER QUE O GOVERNO SUSPENDA ENVIO DE MPs PARA DISCUTIR REFORMA TRIBUTÁRIA"

"A oposição exigiu nesta terça-feira que o governo suspenda o envio de MPs (medidas provisórias) para o Congresso Nacional em nome da tramitação da reforma tributária.
No que depender do PSDB, o governo terá, por exemplo, que suspender o encaminhamento da MP da TV pública --cujo texto principal já foi aprovado na Câmara e aguarda apenas a votação dos destaques. "Não há necessidade de votar a MP da TV pública no Senado agora". "Queremos que acabe isso de editar várias medidas provisórias", disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio Netto (AM)."

AGENDA OCULTA

A real motivação da oposição (PSDB/DEM/PPS) é a suspensão da votação da Medida Provisória (MP) sobre a TV pública. Aqueles partidos aparentam ser representantes dos grupos interessados no sepultamento das TVs públicas no Brasil.

Quem tem medo da TV pública?

Há um boicote em muitos setores contra essa forma de comunicação com a sociedade.
Pesquisando na internet, não achei a resposta, mas encontrei um interessante texto de Ângela Carrato, mestre em comunicação, publicado pela Universidade de Brasília, intitulado:

"A TV PÚBLICA E SEUS INIMIGOS".

"Por TV pública entende-se a que possui autonomia política e financeira. Vale dizer, seus dirigentes possuem mandato definido e não podem ser substituídos, dependendo dos interesses do governante de plantão, e a emissora conta com orçamento próprio, definido por lei. Talvez, o melhor e mais conhecido exemplo de TV pública no mundo seja a da inglesa BBC".

"A situação dessas emissoras (no Brasil) nunca foi tão dramática. E o mais grave é que a maioria está agonizando em meio a um boicote difícil de ser percebido e rompido".

"O boicote começa pelos próprios governos às quais estão vinculadas, passa pelas TVs comerciais, anunciantes e agências de publicidade e envolve até setores que deveriam ser seus mais fiéis aliados, como os sindicatos e os seus próprios funcionários".

"O curioso nesse processo é que nenhum desses setores assume publicamente qualquer crítica mais significativa ao modelo de TV cultural e educativa em vigor no país e, menos ainda, apresenta proposta efetiva para torná-lo viável. Razão pela qual não só cabe, como é pertinente, perguntar: quem, no Brasil dos dias atuais, tem medo das TVs educativas e culturais? Ou, dito de outra forma, quem tem medo da TV pública?"

"O cidadão, pela ótica dos detentores da mídia comercial, tem todo o direito de saber tudo sobre tudo, exceto o que se refere à própria mídia".

OUTRAS TVs PÚBLICAS NO MUNDO

Ontem, eu já havia lido sobre o tema um bom artigo do jornalista Luis Carlos Azenha publicado em seu blog. Tratou da iniciativa do presidente da França, Nicolas Sarkozy, de criar uma mídia pública francesa de alcance internacional.

Todos sabemos que, em síntese, uma boa imagem externa de um país alavanca o seu comércio, o seu turismo, a sua riqueza, entre outros benefícios.

Por sua origem judaica e por representar a direita conservadora francesa, Sarkozy tem recebido grande apoio da mídia internacional (exceto da blogosfera).

Um pequeno parênteses para uma breve biografia de Nicolas Sarkozy. Ele nasceu em Paris em 1955. É advogado e o atual presidente da França. Foi empossado em 16 de maio do ano passado. Seu nome completo é Nicolas Paul Stéphane Sárközy de Nagy-Bocsa. É filho do húngaro Pál Nagybócsai Sárközy e da francesa Andrée Mallah. Sua mãe é descendente de judeus sefaraditas de Tessalônica, na Grécia. É de origem judaica, porém foi criado na fé católica.

Voltando ao artigo sobre Sarkozy que ontem li no blog do Azenha. Foi o seguinte:

"SARKOZY CRIA A "FRANCE MONDE" PARA PROJETAR O PAÍS NO MUNDO"

"No ano passado eu disse que era boa a idéia de fazer uma TV pública no Brasil. Aqueles que julgam os outros de acordo com seu próprio nanismo intelectual interpretaram como pedido de emprego. Na Folha, Nelson Motta escreveu quatro artigos contra a idéia. Desenvolveu uma fixação pelo assunto. Eu estranhei porque, meses antes, o crítico de tudo tinha dado entrevista a uma das emissoras - que depois viria a considerar supérflua - promovendo um dos romances que escreveu. No site do Reinaldo Azevedo, além de me detonar, Motta explicou que tinha ido a Brasília fazer favor a uma amiga. E eu fiquei pensando com os meus botões: foi fazer favor com dinheiro público, já que a entrevista dele não saiu de graça para a TV Câmara.

Criar um grupo de mídia público de alcance internacional é exatamente o que está fazendo Nicolas Sarkozy na França. Ele pretende juntar a Radio France Internationale e as emissoras públicas France 24 e TV5 no que será chamado de Monde France. O objetivo é competir com a BBC e a CNN. A BBC, como vocês sabem, também é pública. É mantida com uma taxa anual cobrada dos telespectadores britânicos. Enfrenta crises e críticas, mas mantém um Jornalismo de altíssimo padrão. Obedece a diretrizes. Uma delas: levar o Reino Unido ao mundo e o mundo ao Reino Unido.

Como eu lhes disse, então, o Reino Unido pode, o Japão pode, a Alemanha pode, a Itália pode, a França pode e o Brasil não pode?

Sarkozy nomeou Alain de Pouzilhac para dirigir a France Monde. O orçamento combinado das empresas que vão se fundir é de 330 milhões de euros. "Temos de tirar vantagem da revolução da tecnologia", disse o executivo ao International Herald Tribune.

A oposição à Monde France é múltipla. Começa pela TF1, a Globo francesa, que teme a concorrência. Passa pelos sindicatos, que protestam contra a possibilidade de "consolidação", ou seja, corte de empregos. Sarkozy quer eliminar a publicidade da TV pública, substituindo o faturamento com um imposto sobre as TVs privadas e em novas tecnologias, de acordo com Doreen Caravajal, que assina a reportagem.

Finalmente, muito preocupados também estão os parceiros da França na TV5 Monde, que atinge 25 milhões de telespectadores em 200 países. Os governos da Suiça, da Bélgica e do Canadá temem que Sarkozy queira fazer política externa às custas da independência do canal.

A França tem uma tradição de soberania. Desenvolveu seu próprio arsenal nuclear. É aliada, mas não capacho dos Estados Unidos. "Pelo jeito, Sarkozy quer garantir essa independência também no campo midiático.".

Este blog “Democracia & Política” considera a TV pública uma ótima iniciativa para o Brasil, que precisa se libertar do complexo de colônia presente na maior parte das outras redes de TV. O Brasil, com o auxílio da TV pública, precisa começar a afirmar para si mesmo e para o mundo a sua nacionalidade, a sua visão e os seus interesses.

Sabemos e comentamos em muitos artigos, neste blog, que os partidos da atual oposição brasileira foram muito convenientes na década passada aos interesses das grandes potências. Ver, por exemplo, o artigo "Por que a Grande Mídia Brasileira é Tucanopefelista", postado em 10/02/2008.

Não é de estranhar, portanto, a manobra oposicionista de boicotar a votação da MP sobre a TV pública, hoje, no Congresso.

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