sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

OBJETIVOS DOS EUA NA VENEZUELA

ANALISTA NORTE-AMERICANO DIZ QUE BUSH E GRANDE MÍDIA DOS EUA QUEREM MUDAR O REGIME DA VENEZUELA

“A Venezuela tem de ser vista como não-democrática e Chávez como agressor contra os Estados Unidos para justificar o objetivo do governo Bush de mudar o regime. Como aconteceu antes da guerra no Iraque, a maioria da grande mídia americana age de acordo com os objetivos da Casa Branca, independentemente da intenção individual dos jornalistas.” (Mark Weisbrot)

Essa afirmação foi publicada há três meses por Mark Weisbrot. Nascido em Chicago em 1954, ele é PHD em economia, colunista e diretor do Centro de Pesquisa Política e Econômica, sediado em Washington, EUA. Ele escreve numa coluna sobre economia e política que é reproduzida em mais de 500 jornais dos EUA, inclusive o Washington Post, o Los Angeles Times, o Boston Globe e outros.

O “Blog do Azenha”, hoje (29/02), traz uma matéria daquele colunista norte-americano. Reproduzo:

“ANALISTA DIZ QUE ELEIÇÃO NA VENEZUELA É MAIS CONFIÁVEL QUE NOS ESTADOS UNIDOS

Por Mark Weisbrot, Centro de Pesquisa Política e Econômica de Washington

Na última segunda-feira, com menos de 90% dos votos contados e a oposição liderando com apenas 50,7% contra 49,3%, o presidente Hugo Chávez aceitou a vitória de seus oponentes. Eles haviam derrotado a proposta de reforma constitucional que incluía a abolição do limite para reeleições.

Ninguém deveria ficar surpreso com a atitude de Chávez: a Venezuela é uma democracia constitucional e o governo tem observado as regras democráticas desde que foi eleito, em 1998. Apesar da não-renovação da concessão de uma importante emissora de TV em maio - uma empresa que não teria concessão em qualquer país democrático - a Venezuela ainda tem a maior mídia de oposição do Hemisfério.

Mas a mídia dos Estados Unidos conseguiu passar a impressão, para a maioria dos americanos, de que a Venezuela é uma espécie de ditadura ou está próxima da ditadura. Alguma dessa desinformação acontece através da mera repetição e associação (por exemplo, com o nome de Cuba aparecendo em milhares de reportagens), da mesma forma que 70% dos americanos foram convencidos, antes da ocupação do Iraque, de que Saddam Hussein foi responsável pelos massacres de 11 de setembro.

Naquele caso, nem mesmo a mídia acreditava na mensagem, ainda assim a tese foi divulgada e serviu de justificativa para a guerra. No caso da Venezuela, a mídia é mais pró-ativa, com editorais grosseiramente exagerados e artigos que às vezes parecem editoriais e falta de equilíbrio nas fontes consultadas. Mas a Venezuela não é o Paquistão.

Não é nem mesmo a Flórida ou Ohio. Uma razão que levou Chávez a aceitar a derrota tão cedo foi a confiança no sistema de votação da Venezuela. É muito diferente dos Estados Unidos, onde milhões de eleitores votam eletronicamente sem prova física emitida pelas máquinas.

Os eleitores da Venezuela fazem sua escolha tocando na tela de uma máquina, que conta o voto e imprime uma espécie de recibo para o eleitor. O eleitor deposita o recibo numa urna. Uma amostragem bastante alta - de cerca de 54% dos votos - das cédulas é contada para comparação com os resultados eletrônicos. Se os números batem é uma garantia bastante sólida contra fraude eletrônica. Qualquer fraude exigiria mexer tanto com as máquinas quanto com as urnas.

Em 2007, os venezuelanos mais uma vez apareceram em segundo lugar na América Latina na classificação dos cidadãos que se dizem satisfeitos ou muito satisfeitos com sua democracia, de acordo com a firma chilena Latinobarometro - 59%, bem acima da média de 37%.

Não é apenas a segurança eleitoral a responsável por esse resultado - é também o governo que cumpriu suas promessas de dividir a riqueza do petróleo com os pobres e a maioria. Para essas pessoas votar e conseguir o que se quer através do voto é uma parte importante da democracia.

Mas o governo Bush tem consistentemente tentado mudar o regime na Venezuela, antes mesmo que Chávez começasse a denunciar "o império". De acordo com o Departamento de Estado, Washington financiou líderes e organizações envolvidas no golpe que derrubou o governo eleito de Chávez em abril de 2002. O Washington Post noticiou nesta semana que o governo Bush tem financiado grupos estudantis não identificados, presumivelmente da oposição, inclusive em 2007.

A Venezuela tem de ser vista como não-democrática e Chávez como agressor contra os Estados Unidos para justificar o objetivo do governo Bush de mudar o regime. Como aconteceu antes da guerra no Iraque, a maioria da grande mídia americana age de acordo com os objetivos da Casa Branca, independentemente da intenção individual dos jornalistas.”

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